Enio Lins
Uma pequena batalha vencida numa grande guerra em curso
No dia 9, foi detectada a veiculação de um vídeo gerado por Inteligência Artificial onde foram fraudadas imagens e falas do ministro Haddad anunciando impostos falsos. Incontinenti, a AGU (Advocacia-Geral da União) despachou ao Facebook uma notificação extrajudicial cobrando a remoção da fraude do ar num prazo de até 24 horas. No dia 10, a Meta retirou a fuleiragem do cyberespaço. Parabéns!
PERIGO NO AR
Essa ocorrência não é a inicial nem será a final deste tipo de crime. Mas foi a primeira, no Brasil, depois que a Meta – controladora do Facebook, Instagram, Threads e WhatsApp – anunciou, no dia 7, que não mais checaria a veracidade das postagens realizadas em suas redes sociais. Além disso, Mark Zuckerberg, chefão da Meta, alegou que “os países latino-americanos têm tribunais secretos que podem ordenar empresas para silenciosamente derrubar as coisas [posts]”. Essa fala infeliz foi interpretada como uma agressão à Justiça brasileira, em retaliação à postura do Supremo Tribunal Federal em fazer cumprir a Constituição. O recuo do Facebook, três dias depois, atendendo à determinação da AGU é fato importante, mas não quer dizer que esteja debelado o instinto criminoso das redes sociais em acoitarem fake news. As teias de notícias falsificadas geram muito dinheiro e poder para os fraudadores, e seus associados, no mundo todo.
CRIME SOFISTICADO
Diz a notificação da AGU: “A postagem, manipulada por meio de inteligência artificial, contém informações fraudulentas e atribui ao ministro declarações inexistentes sobre a criação de um imposto incidente sobre animais de estimação e pré-natal”, fundamentando que “o caráter enganoso e fraudulento das postagens vai contra os próprios Termos de Uso do Facebook, que vedam a utilização da plataforma para finalidades ilegais”. Sobre esse fato, escreveu Lauro Jardim, n’O Globo: “No vídeo fake, um Haddad perfeitamente adulterado ‘diz’ numa entrevista na porta do Ministério da Fazenda coisas como: ‘teremos impostos do cachorrinho de estimação; se ele é da família, temos que arrecadar sobre ele também’, ‘é justo imposto pré-natal: ficou grávida já tem que começar a pagar imposto pro hospital’, ‘imposto das bets: se perdeu o prejuízo é seu; se ganhar, o lucro é nosso’ e ‘brasileiro gosta de um imposto novo’. São 27 segundos de barbaridades ditas com ar de satisfação do ministro” – o jornalista acrescenta: “Pode parecer engraçado para quem lê bizarrices como essas, mas o fato é que um número gigantesco de incautos crê, e repassa”. É importante lembrar que tais postagens, características do delito de deep fakes (mentira profunda, em tradução livre), não podem ser confundidas com edições humorísticas – que precisam estar identificadas como tal, e assinadas.
SOBERANIA NACIONAL
No dia seguinte às declarações do Godfather da Meta, o Ministro Alexandre de Moraes, do STF, se posicionou: “Nossa Justiça Eleitoral e o nosso STF já demonstraram que aqui é uma terra que tem lei. As redes sociais não são terra sem lei. No Brasil, só continuarão a operar se respeitarem a legislação brasileira, independentemente de bravatas de dirigentes irresponsáveis das big techs”. Segundo o Correio Braziliense, Moraes fundamentou: “por terem dinheiro acham que podem mandar no mundo. Pelo resto do mundo não podemos falar, mas, pelo Brasil, tenho absoluta certeza e convicção de que o STF não vai permitir que as redes sociais continuem sendo instrumentalizadas, dolosa ou culposamente. Ou ainda, somente visando o lucro, para ampliar discursos de ódio, nazismo, fascismo, misoginia, homofobia e discursos antidemocráticos”. Falou e disse!
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.