Enio Lins
Luzes, câmeras, ação! O cinema brasileiro de qualidade não é uma ficção
Enquanto se comemora o Globo de Ouro conquistado por Fernanda Torres, e se aguarda, com grande expectativa, as indicações oficiais para a disputa pelo Oscar – em cujas listas de apostas “Ainda Estou Aqui” e sua protagonista figuram com destaque, vale a pena lembrar que o cinema brasileiro já conquistou outros prêmios internacionais de grande valor. Menos do que mereceu, ouso dizer, com a autoridade de mero curioso. A BBC Brasil fez um resumo muito eficiente dessas láureas, relatadas a seguir.
DEZENA DE OURO
Pelas contas da BBC, somam-se 10 ocasiões nas quais a Sétima Arte praticada no Basil subiu aos píncaros da gloria, através do reconhecimento em festivais do mais alto prestígio mundial. Segue o rol feito pela British Broadcasting Corporation, em sua versão brasileira, por ordem cronológica: 1) “O Cangaceiro” ganhou o troféu de Melhor Filme de Aventuras, em Cannes, 1953; 2) “O Pagador de Promessas” trouxe o mais cobiçado dos prêmios em Cannes: Melhor Filme, em 1962; 3) “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, cravou Glauber Rocha como Melhor Diretor, Cannes, 1969; 4) “Eu Sei Que Vou Te Amar” faturou o prêmio de Melhor Atriz (Fernanda Torres),Cannes, 1986; 5) “Central do Brasil” levou o Globo de Ouro como Melhor Filme em Língua não-Inglesa,1999; 6) “Cidade de Deus” sagrou-se como Melhor Edição (Daniel Rezende) no BAFTA (British Academy Film Awards, 2001; 7) “Linha de Passe” conferiu para Sandra Corveloni o título de Melhor Atriz, Cannes, 2006; 8) “Tropa de Elite” colocou na cartucheira o Urso de Ouro de Berlim como Melhor Filme, em 2007: 9) Bacurau levou no bico o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, 2019; 10) “Ainda Estou Aqui”, Globo de Ouro de Melhor Atriz para Fernanda Torres, 2025.
VISÃO PESSOAL
Bom, de minha parte como cinéfilo bissexto, confesso que vi seis e meio dos filmes desta dezena: “O Cangaceiro”, “O Pagador de Promessas” (umas cinco vezes), “Central do Brasil” (duas vezes), “Cidade de Deus” (duas vezes), “Tropa de Elite” e “Ainda Estou Aqui”. Com muito esforço, engoli meiota d’O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro – nunca tive competência para assistir um filme inteiro do genial Glauber Rocha, infelizmente. Confesso que não assisti nada de três: “Bacurau”, mas está na agenda desde que foi lançado; “Eu Sei Que Vou Te Amar”, nunca entrou na minha lista porque o trailer não me entusiasmou, na época – mas me sinto contemplado, em termos de Arnaldo Jabor, com o excelente “Toda Nudez Será Castigada”; do “Linha de Passe”, vou ler mais algumas resenhas para ver se me entusiasmo.
TU VISSE?
Ouso dizer que o mundo teve o prejuízo de não reconhecer devidamente obras-primas da arte cinematográfica brasileira como “Vidas Secas” (1963) e “Boca de Ouro” (1963), de Nelson Pereira dos Santos; “Chuvas de Verão” (1977), Cacá Diégues; “Baile Perfumado” (1995), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira; “Toda Nudez Será Castigada” (1972), de Arnaldo Jabor; “São Bernardo” (1971), Leon Hirszman; “Macunaíma” (1969), de Joaquim Pedro de Andrade; “Limite” (1931), de Mário Peixoto; “Auto da Compadecida (2000), de Guel Arraes; “Pixote” (1980), de Hector Babenco; “Parayba, Mulher Macho” (1983) de Tizuka Yamazaki, “A Hora da Estrela”, de Suzana Amaral – aí foi uma dúzia títulos, em desordem cronológica, pelo que me foi sendo projetado na lembrança, como sugestão. Mas gosto muito também de obras como “Bye Bye Brazil” e “Joana Francesa”, de Cacá Diégues; “Amuleto de Ogum” e “Jubiabá”, de Nelson Pereira dos Santos; “Cidade Fantasma” e “Aquarela”, de Kleber Mendonça... e tem muito mais. Se não viu ainda, veja. Se viu, reveja. Vale a pena.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.