Enio Lins

Luzes, câmeras, ação! O cinema brasileiro de qualidade não é uma ficção

Enio Lins 13 de janeiro de 2025

Enquanto se comemora o Globo de Ouro conquistado por Fernanda Torres, e se aguarda, com grande expectativa, as indicações oficiais para a disputa pelo Oscar – em cujas listas de apostas “Ainda Estou Aqui” e sua protagonista figuram com destaque, vale a pena lembrar que o cinema brasileiro já conquistou outros prêmios internacionais de grande valor. Menos do que mereceu, ouso dizer, com a autoridade de mero curioso. A BBC Brasil fez um resumo muito eficiente dessas láureas, relatadas a seguir.

DEZENA DE OURO
Pelas contas da BBC, somam-se 10 ocasiões nas quais a Sétima Arte praticada no Basil subiu aos píncaros da gloria, através do reconhecimento em festivais do mais alto prestígio mundial. Segue o rol feito pela British Broadcasting Corporation, em sua versão brasileira, por ordem cronológica: 1) “O Cangaceiro” ganhou o troféu de Melhor Filme de Aventuras, em Cannes, 1953; 2) “O Pagador de Promessas” trouxe o mais cobiçado dos prêmios em Cannes: Melhor Filme, em 1962; 3) “O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro”, cravou Glauber Rocha como Melhor Diretor, Cannes, 1969; 4) “Eu Sei Que Vou Te Amar” faturou o prêmio de Melhor Atriz (Fernanda Torres),Cannes, 1986; 5) “Central do Brasil” levou o Globo de Ouro como Melhor Filme em Língua não-Inglesa,1999; 6) “Cidade de Deus” sagrou-se como Melhor Edição (Daniel Rezende) no BAFTA (British Academy Film Awards, 2001; 7) “Linha de Passe” conferiu para Sandra Corveloni o título de Melhor Atriz, Cannes, 2006; 8) “Tropa de Elite” colocou na cartucheira o Urso de Ouro de Berlim como Melhor Filme, em 2007: 9) Bacurau levou no bico o Prêmio do Júri no Festival de Cannes, 2019; 10) “Ainda Estou Aqui”, Globo de Ouro de Melhor Atriz para Fernanda Torres, 2025.

VISÃO PESSOAL
Bom, de minha parte como cinéfilo bissexto, confesso que vi seis e meio dos filmes desta dezena: “O Cangaceiro”, “O Pagador de Promessas” (umas cinco vezes), “Central do Brasil” (duas vezes), “Cidade de Deus” (duas vezes), “Tropa de Elite” e “Ainda Estou Aqui”. Com muito esforço, engoli meiota d’O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro – nunca tive competência para assistir um filme inteiro do genial Glauber Rocha, infelizmente. Confesso que não assisti nada de três: “Bacurau”, mas está na agenda desde que foi lançado; “Eu Sei Que Vou Te Amar”, nunca entrou na minha lista porque o trailer não me entusiasmou, na época – mas me sinto contemplado, em termos de Arnaldo Jabor, com o excelente “Toda Nudez Será Castigada”; do “Linha de Passe”, vou ler mais algumas resenhas para ver se me entusiasmo.

TU VISSE?
Ouso dizer que o mundo teve o prejuízo de não reconhecer devidamente obras-primas da arte cinematográfica brasileira como “Vidas Secas” (1963) e “Boca de Ouro” (1963), de Nelson Pereira dos Santos; “Chuvas de Verão” (1977), Cacá Diégues; “Baile Perfumado” (1995), de Paulo Caldas e Lírio Ferreira; “Toda Nudez Será Castigada” (1972), de Arnaldo Jabor; “São Bernardo” (1971), Leon Hirszman; “Macunaíma” (1969), de Joaquim Pedro de Andrade; “Limite” (1931), de Mário Peixoto; “Auto da Compadecida (2000), de Guel Arraes; “Pixote” (1980), de Hector Babenco; “Parayba, Mulher Macho” (1983) de Tizuka Yamazaki, “A Hora da Estrela”, de Suzana Amaral – aí foi uma dúzia títulos, em desordem cronológica, pelo que me foi sendo projetado na lembrança, como sugestão. Mas gosto muito também de obras como “Bye Bye Brazil” e “Joana Francesa”, de Cacá Diégues; “Amuleto de Ogum” e “Jubiabá”, de Nelson Pereira dos Santos; “Cidade Fantasma” e “Aquarela”, de Kleber Mendonça... e tem muito mais. Se não viu ainda, veja. Se viu, reveja. Vale a pena.