Enio Lins

Pedregulhos no meio do caminho da Democracia no mundo

Enio Lins 10 de janeiro de 2025

Nesta semana, acontecimentos chamam a atenção, por representarem riscos à Democracia. Há dois dias, completaram-se dois anos da derrota de um golpe no Brasil. E uma ação golpista, internacional, nas redes sociais foi desencadeada há três dias.

GOLPISMO AQUI
No caso brasileiro, a tentativa rendeu um prejuízo imensurável para a tradição golpista nacional, pois pela primeira vez em sua história de 525 anos, o Brasil está testemunhando o perfeito exercício dos poderes constituídos, especialmente o Judiciário, em defesa da Constituição. Agitada durante todo o quadriênio do desgoverno do falso messias, a ideia do putsch teve seu ápice em 8 de janeiro de 2023, numa articulação criminosa entre lideranças civis e militares de alta patente. Esse conluio se intensificou depois da derrota eleitoral bolsonarista, na iniciativa orquestrada do cerco patriotário aos quarteis, em todo país, a exigir um golpe militar. As redes sociais tiveram um papel fundamental na proliferação dessa balbúrdia, turbinando notícias falsas sobre a eleição, e divulgando apelos verdadeiros para a abolição violenta do Estado Democrático de Direito, e implantação de um regime ditatorial de direita comandado pelo ex-capitão. Combatidos, dentro das quatro linhas da Constituição, os “gabinetes do ódio” tiveram reduzida sua eficiência criminosa, mas, mesmo assim, obtiveram êxito parcial na mobilização da intentona – que foi derrotada no mesmo dia de sua deflagração. Mas os golpistas seguem ativos nas redes sociais, agitando seu ideal antidemocrático e exigindo que as leis deixem de ser cumpridas.

GOLPISMO ACOLÁ
No caso americano, um golpe também foi tentado com o objetivo de solapar a Constituição estadunidense e subverter o resultado da eleição presidencial de 2020, que derrotou o então presidente Donald Trump. A tentativa golpista nos Estados Unidos ocorreu no dia 6 de janeiro de 2021, com hordas de trumpeiros invadindo (de forma inédita na história daquele país) o Capitólio para impedir a proclamação de Joe Biden como vitorioso. Lá também foi essencial o papel das redes sociais na enxurrada de fake news e de apelos golpistas, mas a deformação institucional americana no quesito “liberdade de informação” favorece a atuação dos gangsters midiáticos. Frente ao escândalo ético (e não necessariamente ilegal, pelas confusas leis ianques), empresas como Facebook e Instagram resolveram banir de suas redes cometedores contumazes do delito da desinformação. Donald Trump dançou com suas contas canceladas. Para quem teve coragem de praticar aquele cuidado ético, sobrou a perseguição implacável dos defensores desse formato de crime. Trump criou sua própria rede antissocial, a Trhuth, para delinquir à vontade. No ressurgimento eleitoral do trumpismo, ao longo de 2024, o próprio Donald, na condição de candidato favorito à Casa Branca, intensificou suas ameaças abertas a empresários como Mark Zuckerberg. No dia 7 de janeiro, quatro anos depois da tentativa frustrada de golpe trumpista, Mark Zuckerberg entregou os pontos. Ajoelhou-se, e prometeu rezar pela cartilha autoritária.

E AGORA, JOSÉ?
Tem uma pedra no meio do caminho (democrático) no mundo. Um pedregulho grande. Mas o mundo já destroçou calhaus maiores, como Adolf Hitler e seu mago da Comunicação, Joseph Goebbels. Como diria o poeta, “Nunca me esquecerei desse acontecimento/ Na vida de minhas retinas tão fatigadas/ Nunca me esquecerei que no meio do caminho/ Tinha uma pedra/ Tinha uma pedra no meio do caminho/ No meio do caminho tinha uma pedra”. Tinha. Mas no amanhã não terá mais, será estilhaçada em mil e um pedaços.