Petrucia Camelo
ANO NOVO DE FELICIDADE
A humanidade continua celebrando o Ano Novo, brindando a felicidade, no desejo de encontrá-la como se ela fosse uma linda e casta princesa trazida numa carruagem acolchoada de dourado, atrelada a cavalos brancos, conduzida por lacaios, isenta dos efeitos da trepidez do caminho, ou ainda, viesse sobre uma trilha de nuvens brancas, sopradas pelo vento, trazida sobre asas de anjos, ou, ainda mais, viesse segurada pela mão de outrem, e que fosse entregue com muito charme.
A festa de Ano Novo é tão grandiosa na promessa da felicidade, que se faz descrever, e sem querer esgotar as suas características, somente se faz pensar que ela não vem só: traz consigo impurezas do caminho e os vícios da corte que a acompanha. Para recebê-la, é preciso que se saiba abrir o invólucro da embalagem e, às vezes, o conteúdo ali depositado é tão pouco que logo ela mostra pela contradição a que dá lugar, então, faz-se desejar ou procurar entender o porquê de tanta dificuldade para alcançá-la.
O estado de felicidade não é palpável; é etéreo, volátil, não se deixa ver, pegar, somente deixa-se sentir. É como se fosse uma alquimia, mas verifica-se sobretudo que não se pode estar no estado de felicidade permanentemente e nem embriagar-se dele, pois a sensação de sua embriaguez diz: "Não acordem, não despertem”, tirando a consciência da realidade em que se vive. Talvez, receber a felicidade, com tanta necessidade, nem sempre seja louvável encontrá-la.
Talvez a felicidade seja feita de breves momentos diante da fragilidade e inconstâncias das coisas terrenas; é possível que, a princípio, cause admiração, seja como vestir uma roupa nova para ir a uma festa. Talvez seja uma pausa para o espírito descansar, uma renovação interior, para aplainar as dificuldades do desafio de superar as contingências ocasionais. Mas o que seria a vida do ser humano sem a promessa da felicidade?
Para alcançar a felicidade, não há alteração do caminho; ela não pede para a possuírem, e, sim, uma garantia de ser bem instalada, bem acolhida, e não se posiciona somente nas flores de entrada de uma cidade bem organizada. Pode estar tão próxima que se torna objeto de tropeço, ou no olhar que provoca a atenção, na palavra que promove mudanças ou vestida tão simplesmente como bem se vê no espelho do brilho do assoalho.
Quando o brilho da festa do Ano Novo se apagar, levando de volta os convidados, trazendo de volta as vivências pessoais do cotidiano, é preciso tirar o sapatinho de cristal e colocar o avental para repor as coisas no devido lugar, desmanchar o cenário da festa. Aí, então, pode-se acrescentar: a felicidade não quer definições; assim seria alterada na sua condição de inesperada. Ela quer afinidade com seu parceiro como o amor conjugal, que deve ser eterno ou tão breve como a flor radiosa que desperta o olhar da manhã e a tristeza da noite, ao morrer.
A felicidade quer ser nova todo dia como os desejos de promessas dos dias do novo ano; ela é faceira no seu andar, quer despertar atenções, ter adeptos, admiradores que lhe rendam homenagens constantes, ininterruptas, sem cansar. A felicidade poderá ser como as mulheres, no que se lê: Os poetas sempre louvam as mulheres que encantam as pessoas... como bem diz Grun, Anselm (Vozes).
Limita-se a descrição da felicidade como símbolo dos desejos humanos e que não pode ser inventada no preparo das promessas que o ser humano deve fazer a si mesmo no decorrer de toda a sua existência. Baseada na salvação do que se adquire por meio do conhecimento, passado e presente renovando-se interiormente, acreditando em suas crenças e no que se defende. Embora a felicidade possa surpreender até o mais cético, incauto ou sábio, deixa-se a critério do hospedeiro o encanto do encontro: o seu entendimento, a sua forma, a sua roupagem, a sua leveza, juntos como se estivessem a levitar.
Nessa descrição, apesar de ter significados diferenciados, não se deve comparar a felicidade com uma ilusão, um roteiro de ficção, pois pode gerar um amargo despertar. A felicidade é o que é, desejos que podem levar à realização do novo ano, aos sentimentos mais profundos e às necessidades mais íntimas.
A felicidade é um refúgio no estado d'alma, de onde brota uma força enorme, onde o indivíduo se sente tocado na plenitude de realização. Pode-se finalizar arriscando-se a dizer: A felicidade não se compra nem é o receber de dias novos de um novo ano; a felicidade é pura doação e pode ser como o amor. Que seja infinito enquanto dure, como bem diz o poeta e cantor Vinicíus de Morais.
Petrucia Camelo
Sobre
Petrucia Camelo é Assistente Social, nasceu em Viçosa-AL. Casada com o médico e escritor Arnaldo Camelo. Possui 14 livros publicados, dois livros premiados. Pertence a Academia Alagoana de Letras. Sócia Honorária do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Sócia da UBE-PE. Fundadora e Presidente do Clube Café, Vinho e Arte - CCVA.