Enio Lins

Umas linhas transitando da saudade para a memória alagoana

Enio Lins 18 de dezembro de 2024

Peró se foi na segunda-feira. Semanas antes Marcílio, Isaac e Bola também. Ela personagem pública de notável atuação social e artística. Eles, os três, atuaram para públicos específicos, dois no campo da Medicina e um no comércio. Quatro corações e mentes ligadas às lutas democráticas, ativistas da cidadania. Quatro profissionais impecáveis em seus campos de atuação. Merecem registro, até para estimular futuros trabalhos, consubstanciados, no campo da memória alagoana.

PERÓ

Perolina Batista Andrade, produtora cultural, artista múltipla dedicada às artes circenses e militante da inclusão social, despediu-se da vida no dia 15 de dezembro, aos 71 anos. Lutou contra um câncer durante muito tempo, sem parar de trabalhar. Sobre ela, registrou o site 082 Notícias: “Ela dedicou mais de 45 anos de sua vida às artes, com uma trajetória quase exclusivamente voltada ao teatro e ao circo. Atuou na produção e direção teatral em todos os estados do Brasil, mas, foi o circo que, nos últimos 35 anos, ocupou de forma definitiva o centro de sua vida e carreira. Peró Andrade foi a idealizadora e produtora do projeto ‘Sua Majestade, o Circo’, instalado na Vila Emater, próximo ao antigo Lixão de Maceió. Com um trabalho transformador realizado na periferia da cidade, em uma área marcada por décadas de degradação, o projeto levou dezenas de crianças e jovens a se dedicarem à arte circense”. Para a museóloga Cármen Lúcia Dantas, “a vida de Peró foi sempre muito coerente com suas ações. Simples, sem fazer alarde, ele teve um papel importante na inclusão de jovens pobres no contexto artístico, mesmo fora de Alagoas. Via a arte como uma redenção social e não ficava no sonho: realizava”.

ISAAC

Isaac Soares de Lima era médico cirurgião, professor de cirurgia. Se foi no dia 23 de novembro, aos 73 anos. Além das atividades na medicina, era profundamente ligado às artes, especialmente à música e à fotografia – aqui se destacando como pessoa com permanente interesse pelos registros fotográficos (os “instantâneos”, como se dizia antigamente) da cena cultural alagoana. Podia ser evento badalado ou ocorrência cotidiana, lá estava Isaac fotografando. Supõe-se que sua coleção de fotografias seja imensa, mas – por enquanto – segue botija resguardada.

MARCÍLIO

Marcílio de Lima Barros se foi, depois de dura luta para recuperar a saúde, em 23 de novembro, aos 71 anos. Era médico intensivista dedicado ao serviço público de saúde, permanentemente atento a quem precisasse de atendimento nas unidades públicas, com longa folha de serviços prestados no HGE. Boêmio tranquilo, apreciador da boa bebida e do bom tira-gosto, foi figura indissociável de endereços como o saudoso Bar do Alípio e do contemporâneo Cachorro Engarrafado. Ativista sindical, militante de esquerda ligado ao PCdoB, teve presença destacada nas lutas pela Redemocratização.

BOLA

Luiz Carlos Vasconcelos Lessa era conhecido como “Bola” ou “Bolinha” e partiu no dia 25 de novembro. Bola, durante muitos anos, era presença diária em sua tradicional lanchonete localizada na esquina entre a Rua Augusta (“das Árvores”) e a Rua do Comércio. Ativista das lutas políticas, era primo de Ronaldo Lessa, que dedicou emocionada postagem registrando que “Bolinha foi muito mais que um primo: um parceiro de lutas, ideias e jornadas” e “comerciante nato, Luiz Carlos era aquele tipo de pessoa sempre alegre e prestativa, que fazia questão de estar presente para ajudar”.