Enio Lins

Lula, a finitude de Lula e a infinitude da luta democrática

Enio Lins 13 de dezembro de 2024

Ululantemente, a saúde de qualquer presidente de quaisquer repúblicas é questão de grande preocupação – e enorme emoção. No Brasil contemporâneo, preocupar-se como o boletim médico presidencial é essencial, pois, à espreita, o autoritarismo afia seus punhais verdes-amarelados. Até por conta desse gangsterismo patriotário, a saúde de Lula não pode ser sinônimo de saúde do Estado Democrático de Direito. Longa vida ao cidadão Luiz Inácio Lula da Silva! Longa vida à Democracia, durante e pós-Lula.

RAÍZES PODRES

Acossado pelo golpismo atávico, o regime democrático vive seu maior período de existência contínua na história da República brasileira. Desde a Redemocratização de 1985, já se vão 39 anos sem (sucesso de) novos golpes de Estado, apesar das tentativas fracassadas. Viva! Só contando os que deram certo, a partir da proclamação, em 1989, sucederam-se os golpes de 1922 (Arthur Bernardes e seu Estado de Sítio, que se estendeu por quatro anos), de 1930 (Getúlio Vargas), 1937 (Estado Novo, Getúlio Vargas), 1945 (deposição militar de Getúlio), 1964 (militares), 1968 (golpe militar dentro do golpe militar, que se estendeu até 1985). Se tudo correr bem, em 2025 o Brasil completará 40 anos de regime democrático ininterrupto, e que siga adiante! Bem, e o regime imperial?

GOLPISMO COROADO

Se consideramos o Segundo Império, do Golpe da Maioridade, em 1840 (que coroou Pedro II com apenas 13 anos de idade) até 1889, temos 49 anos de regime institucionalizado. Mas Dom Pedro II não governava, era simpática peça decorativa, como os reis de reisado – ao contrário de seu pai, Pedro I, governante de fato e com mão de ferro. E as “eleições” parlamentares imperiais eram no bico de pena, para um eleitorado selecionado a dedo, e com resultados previamente determinados. No Primeiro Império, Dom Pedro I deu dois golpes: em 1822, proclamando a independência para manter a família Bragança simultaneamente em dois tronos (Brasil e Portugal) e em 1823, quando dissolveu a Constituinte e determinou uma Constituição por conta própria e em benefício próprio. Golpismo que deu certo cá e lá, pois Pedro I abdicou do trono brasileiro em 1831, para ocupar o trono português como Pedro IV.

LULA NA HISTÓRIA

Não fosse Luiz Inácio Lula da Silva, o crime organizado, golpista assumido, representado pelo deletério Jair Messias seria vitorioso nas eleições 2022, isolando as resistências democráticas exercidas ao longo de quatro anos pelo Supremo Tribunal Federal e pela banda sã das forças armadas. A reeleição do mito, caso tivesse ocorrido como a vagabundagem apostava, seria a porta escancarada para uma ditadura miliciana, conforme anunciada, e tentada, pelo mitológico capitão de milícias durante todo o seu desastroso mandato. A intentona bolsonarista, derrotada em 8 de janeiro de 2023, é a mera comprovação dos terríveis riscos vividos pelo Brasil. Riscos que seguem ensombrando e assombrando a Democracia. Viva o Lula, mas o Estado Democrático de Direito precisa ser fortalecido para além da liderança e da saúde de Lula. E as forças democráticas brasileiras precisam fortalecer – política e eleitoralmente – outros nomes além do ex-metalúrgico. Ou alguém acha que Lula é imorrível? Os golpistas sabem que não, tanto que programaram seu assassinato (matariam também Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes). O mito, capitão de milícias, repetiu sempre, e gravou vídeo (disponível na internet), afirmando que mataria “uns 30 mil, no mínimo”.
Imorrível, na história do Brasil, só o golpismo. Para a sobrevivência da cidadania, a renovação das lideranças democráticas é o sopro da vida.