Petrucia Camelo

NATAL DE JESUS CRISTO

Petrucia Camelo 11 de dezembro de 2024

O rio que corre em paralelo reflete a luz das decorações da cidade; colorida, reporta ao passado e ao presente, traz a saudade como se fosse um resgate melancólico das ilusões primeiras, talvez nunca vivenciadas. Os volteios do rio levam as imagens da festa natalina a refletir nas águas da noite reflexa.

No presépio, todo o redor toca-o com o olhar de admiração a esculpir no imaginário as imagens sagradas que compõem a manjedoura; vive-se a fé herdada em um momento de adoração e de amor a Jesus Cristo, na certeza de que a maternidade divina não é um engano.

Mas é o costumeiro das ilusões que auxilia no sistema visual dominante; é o momento que dita as regras; é o vaivém em meios que levam de um lugar a outro, que auxilia e faz a história registrada em páginas amarelecidas recobrar a vida e ser relida.

E não é o acaso, nem o imprevisto; é, sim, o método da verdade da fé clara e apreendida como se diz: como se fosse o rio a correr levando a vida à margem, sugerindo aos povos lançarem as suas redes de pesca a trazerem o alento que faz a rede pesar.

Assim deve-se interpretar o Natal de Jesus Cristo, impregnado da visualidade da cor e da luz, promovido e colhido pelo rio da fé, um rio que nasce e corre no espírito, enchendo a margem de esperança.

Não importam a ideia contrariada, a palavra entrecortada por prantos, a cruz que se carrega, o sangue que se derrama; importa, sim, a capacidade de viver por momentos o significado da gruta, como se as pedras que a compõem estivessem calcadas na base da Catedral que, em foco de luz, brilha incendiada pela fé no Menino-Deus.

E em promessa de esperançado o mundo comemora há milênios o que conta a história sagrada da natividade. E ouve-se pela fé e sensibilidade o som da anunciação do anjo Gabriel, a inspirar a Maria: Ave cheia de graça, o senhor é contigo... Não temas: Maria encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás em teu seio e darás à luz um filho, e o chamarás com o nome de Jesus.

O nascimento de Jesus Cristo é revolucionário pelo local ocorrido; é pelo tempo de recenseamento, é pelo domínio de um espírito terrível que pela espada abateu inocentes com medo de perder o domínio do seu reinado. Hoje, a fé deve ser em cruzadas levando esperança pela necessidade que se tem das promessas da fé.

E, no virar da página, vê-se a manjedoura sob a instrução da luz da estrela; há incenso, mirra, prata e ouro, oferecidos por reis magos, mas o tesouro maior está na manjedoura, desnudo de costumes mundanos, sagrado de divindade: era Deus feito homem nascendo para viver a condição humana.

O barco que desliza nas águas plácidas do rio leva o olhar do tripulante até a margem a ver cintilar o colorido das luzes que arranjam a árvore que simboliza o natal. E, no ar, não há sopro do vento, mas sente-se o halo de Deus, e o eco do bordão da canção universal “Noite Feliz” a se espalhar musicalmente, enuviando por momentos, o torvelinho das situações conflitantes, separando o que é rocha de gruta, o que é torrão de areia froixa que compõem os edifícios de construção humana.

E, em seu leito, o rio corre, sem se importar com o que plantaram na margem, sem distinção do que é sonho e o que é realidade; cumpre o seu papel: desembocar nas águas do mar.

E o período natalino, apesar de certo artificialismo, continua a tradição infinita; mesmo com as contradições mundiais, abre as cortinas do templo da fé, mostra que o nascimento de Cristo não ocorreu em uma paisagem primitiva e ingênua; basta ver o significado da natureza da manjedoura, a conotação da simplicidade e fortaleza da pedra.

As imagens figurativas que homenageiam e visitam à criança coberta pelo manto divino, sugerem que o nascimento do Menino-Deus, em todos os aspectos, é um ato divino, oriundo de Deus, a unir o homem à Sua divindade. Mostra que o mundo é de todos os que se prestam a comungar desse ideal sacro, que cultuam a vida como um templo de salvação do bem comum e do amor a Deus.