Enio Lins

Em exposição, um grão do enorme tesouro de Claudevan Melo

Enio Lins 11 de dezembro de 2024

Daqui a seis dias será aberta oficialmente a exposição “Memória Musical Alagoana”, primeira mostra – amostra grátis – pública de uma fração do grande acervo do pesquisador Claudevan Melo. O ato solene será às 17 horas do 17 de dezembro, terça-feira, no Arquivo Público Estadual, em Jaraguá.

UM PESQUISADOR RADICAL

Claudevan Melo merece um livro sobre sua incrível e ininterrupta batalha pela identificação, localização e aquisição de toda e qualquer obra de arte (musical, preferencialmente) produzida por artista das Alagoas. Dedicado especialmente à música e artes cênicas, esse Dom Quixote nascido em Rio Largo, ao contrário do personagem imortal de Cervantes, é muito bom de cuca, domina estratégias e táticas em suas lutas. Também diferentemente do “engenhoso fidalgo de la Mancha” é o camarada Claudevan um cavaleiro solitário, há décadas, dispensando Sanchos Panças nessa sua longa jornada. Metalúrgico especializado nos anos 70, hoje aposentado, é produto de um tempo em que a ferramentaria era a elite operária mundial, e a compreensão das coisas do mundo ia muito além do chão de fábrica. Desde muito jovem, recém-saído do SENAI, em São Paulo, soube dividir o salário incluindo o colecionismo na divisão do “holerite” como necessidade básica. E começou a caçar peças da memória cultural e musical alagoana pelas feiras, antiquários e leilões, incialmente, nos mercados de velharias em solo paulistano e carioca.

ACERVO FARAÔNICO

Meio século de buscas e aquisições (e doações) produziram um acervo cuja quantidade de peças é de difícil mensuração e atualização. Para se ter uma ideia da grandeza, basta dizer que foram transportadas de São Paulo para Maceió quatro toneladas de raridades, dentre as quais cinco mil discos (em cera de carnaúba, 78 rpm). Nesses antigos registros fonográficos estão contidas as primeiras gravações de vozes alagoanas e/ou canções compostas por alagoanos. Só na preparação dessa sua mudança, Claudevan investiu dois anos de preparação minuciosa, trabalhando sozinho, por conta própria, sem ajuda do poder público ou de empresa privada. Mas, em 2022, o tesouro alagoano recolhido mundo afora chegou à Maceió. Apesar das tentativas constantes para viabilizar uma parceria, pública e/ou privada, para um projeto capaz de abrigar de forma segura e perene esse monumental patrimônio cultural, nenhum avanço significativo aconteceu. O metalúrgico continua como banqueiro individual de seu capital, um capital que deseja coletivizar – mas com a devida segurança para o futuro da gigantesca botija desenterrada. Alô, Governador Paulo Dantas?... Alô, prefeito JHC?... Alô UFAL?... Alô UNEAL?... Alô CESMAC?...

A EXPOSIÇÃO

Enquanto aguardamos um retorno às chamadas, vamos nos ligar na mostra que será aberta na próxima terça-feira, reunindo peças de quatro sumidades alagoanas que conquistaram grande projeção nacional em vida, como Hekel Tavares (1896-1969), maestro e compositor; José Luiz Calazans, o Jararaca (1896-1977), compositor, cantor, ator; Augusto Calheiros (1891-1956), compositor e cantor; Sadi Cabral (1906-1986), ator e compositor. Estarão à disposição do público os originais de jornais, partituras, revistas, discos e fotografias. Durante a abertura da exposição será realizado um “Chá de Memória” e alguns dos discos serão tocados em gramofones autênticos (como eram há cerca de 100 anos). Até o final de janeiro de 2025, a mostra segue em cartaz, de segunda a sexta, das 8 às 14 horas, no salão principal do Arquivo Público de Alagoas, rua Sá e Albuquerque, em Jaraguá (defronte à entrada do Porto de Maceió).