Enio Lins
209 anos de alagadiços tapados, e outros nem tanto
Hoje é aniversário de Maceió. A data marca o dia 5 de dezembro de 1815, quando o príncipe-regente Dom João apôs seu autógrafo ao alvará régio com o reconhecimento oficial da existência daquela vila (existente – escondidinha – desde meados dos anos 1600) entre a Alagoa do Norte, mais conhecida como Mundaú, e a enseada de Jaraguá.
PRIMEIROS REGISTROS
Edberto Ticianeli, no site História de Alagoas, lembra: “o registro mais antigo sobre Maceió remonta a 25 de novembro de 1611, quando foi lavrada uma escritura em que o alcaide-mor de Santa Maria Madalena (Marechal Deodoro), Diogo Soares, doa uma sesmaria a Manuel Antônio Duro medindo 800 braças e se estendendo até encontrar o Rio Mundaú. O beneficiário da doação já era morador da Pajuçara, onde tinha uma “casa de telha” (...). Maceió voltou a ser objeto de preocupações da monarquia lusa somente após a ocupação holandesa, quando, em 1673, D. Pedro II de Portugal, filho de D. João IV, decide que deveria ser povoada e o Porto de Jaraguá fortificado, fato que só ocorreria na década de 1820, quando Mello e Póvoas já governava a província”. Relatórios batavos, nos idos de 1630, indicam o porto natural de Jaraguá e a praia da Pajuçara como pontos de desembarque das tropas que marchariam ao norte, rumo a Porto Calvo. Um mapa localizado na lusitana Torre do Tombo, pela pesquisadora Maria Angélica da Silva, da UFAL, descreve as coordenadas para o acesso e ancoragem em “Jaragoa”, nos anos 1700. Em 2018, a tese de doutorado da arquiteta Cynthia Fortes aprofunda os estudos sobre a importância da atividade portuária em Jaraguá entre os séculos XVI e XIX. O nome da localidade, como sobejamente conhecido, deriva de vocábulo tupi "maçayó", ou "maçaio-k", traduzido como “o que tapa o alagadiço”.
ALIANÇA INGLESA
Moacir Sant’Ana escreveu e comentou sobre mito da cidade ter tido origem num engenho chamado Massayó, de existência comprovada, mas de curtíssima atividade (cerca de dois anos), o que não possibilitaria a formação de um assentamento estável. Para Moacir, o contrabando controlado pelos ingleses foi a motivação real do crescimento da localidade. Pela lagoa e seus canais desceriam as cargas de açúcar (produzidas ao longo da bacia do rio Mundaú) e da madeira de lei extraída das fabulosas matas. Sávio de Almeida repetia constantemente: “Maceió é uma invenção inglesa” em disputa com o contrabando dirigido pelos franceses na praia do Francês. O registro, nos mapas mais antigos, dum “Cemitério dos Ingleses” (hoje sumido) nas proximidades do restaurante Carne de Sol do Picuí, seria mais uma evidência dessa aliança; e a alameda principal do Cemitério Nossa Senhora Mãe do Povo, povoada por muitas lápides britânicas, parece confirmar a anglofilia. Fato é que quando o primeiro presidente da capitania das Alagoas, Sebastião de Mello e Póvoas, chegou ao território, em 1818, sua atenção foi atraída para a povoação maceioense e, desembarcado no porto de Jaraguá, permaneceu por dias na vila, achando massa a agitação maceioense.
PARABÉNS PARA MACEIÓ
Hoje Maceió sopra 209 velinhas em comemoração ao dia em que Dom João a emancipou da antiga Vila de Santa Maria Madalena da Alagoa do Sul. Cresceu atabalhoadamente, tapando seus alagadiços de forma desordenada, detonando parte considerável de seus tesouros ambientais ao longo dos séculos. Mas se mantém como a capital do mais belo litoral do Brasil, como polo artístico-cultural de enorme relevância, e como comunidade que clama por soluções efetivas para seus velhos e grandes problemas urbanísticos e sociais. Viva Maceió! Que o futuro lhe sorria.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.