Enio Lins

Ib Gatto Falcão numa colcha de retalhos de memórias

Enio Lins 04 de dezembro de 2024

João Batista Neto é cirurgião, professor de cirurgia digestiva da UFAL, e pelo Núcleo Alagoano para a História da Medicina, editou “Ib Gatto Falcão – Olhar de cirurgião”, obra com enxutas 130 páginas, reunindo 15 autores em 23 textos, sobre o icônico Doutor Ib (1914/2008), médico e intelectual notabilizado por atuar, para além da Medicina, em ousados projetos que marcaram época em Alagoas.

SELEÇÃO

Agatângelo Vasconcelos (in memoriam), Alberto Lanverly, André Falcão, Benedito Ramos, Emmanoel Fortes, Geraldo Vergetti (in memoriam), João Batista Neto, Jorge Luiz Soares, Lautheney Perdigão (in memoriam), Luiz Nogueira, Marcos Davi Melo, Maysa Brandão, Milton Hênio, Ricardo Camelo, Ricardo Nogueira escrevem relatos curtos, descrevendo algumas das muitas facetas e realizações que marcaram a longa vida de Ib Gatto Falcão, cuja derradeira realização marcante foi a recuperação da Casa de Jorge de Lima – adquirida, restaurada e cedida à Academia Alagoana de Letras pela Prefeitura de Maceió durante a gestão Kátia Born, em atendimento à persistência de Ib Gatto para o salvamento e reutilização do histórico casarão do poeta, até então tristes ruínas, na Praça Sinimbu. Tâmara Albuquerque é a jornalista responsável pela editoração, com diagramação de Wellington Cavalcanti.

CONSTRUTOR

Planejar com ousadia e perseguir obstinadamente a realização do projetado foram características de Ib Gatto Falcão. A formação da então Escola de Ciências Médicas (hoje UNCISAL – Universidade Estadual de Ciências da Saúde em Alagoas) foi um desses marcos, assim como a criação do CEPA (Centro de Estudos e Pesquisas Aplicadas). A lista é enorme. Nos anos finais de sua existência, ele concentrou suas energias na condução da Academia Alagoana de Letras, criando cursos sobre escrita e literatura, e – observação minha – pela visão estratégica na renovação do quadro de integrantes da casa, cuidando até de inscrever mais de uma candidatura para cada vaga surgida, pois considerava o debate fundamental para o processo eleitoral.

LEMBRANÇAS

Por falar em observações pessoais e ideologias, Doutor Ib se postava à direita, como bem retrata João Batista Neto (na página 43), torcendo o nariz para o comunismo de Graciliano Ramos e apoiando o 1º de abril de 1964. Mas seguia, como educador, as diretrizes do esquerdista Anísio Teixeira (apud página 42). Era um polemista duro e mordaz, não aliviava nos debates; e, quando rompia com alguém, não tinha volta. Mas este canhoto contumaz que aqui vos escreve sempre teve excelente diálogo e parceria com o destro Ib. Discordávamos aqui e ali, respeitosamente, e sempre encontrávamos uma via de entendimento. Inclusive deve estar resguardada nalguma gaveta do Museu da Imagem e do Som uma longa entrevista em vídeo feita com Ib Gatto, numa produção da incansável dupla Silvana Valença & Sue Chamusca, onde ele destrincha ideias inovadoras e realizações singulares como a Colônia Penal Santa Fé (sem grades, ou mesmo cercas, em União dos Palmares, e instituição hoje sumida do mapa).

O LIVRO

Bom, vamos encurtar a conversa e voltar ao livro do João Batista Neto. Biografias, sejam longas ou curtos relatos memorialísticos, são obras fundamentais. A narração da vida de alguém, seja celebridade ou não, fornece lições, ilações e informações de todos os tipos sobre um tempo vivido (hábitos, ideologias, tecnologias, geografias, economia, moda, cultura, artes...). Ao contrário do suposto pela vã filosofia, uma biografia nunca se limita à pessoa biografada. E para aquirir esta obra? Basta entrar em contato com Sebastião, o livreiro, pelo (82) 98155-9787.