Enio Lins

Golpe tentado e derrotado: é hora de jair pagando a conta

Enio Lins 29 de novembro de 2024

“Tentativa de golpe” é um termo incorreto se usado como tentativa de enfiar goela abaixo do povo brasileiro como se atenuante fosse. Mas, o falso Messias não apenas pensou uma quartelada, e sim tentou a abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A derradeira investida desse criminoso foi levada adiante no dia 8 de janeiro de 2023. Jair, ali, colocou seu bloco na rua, e foi derrotado – em primeiro lugar, dentro dos quartéis.

B DE BUNDA DE FORA

“Bolsonaro nu - Ninguém precisava da PF para saber que Bolsonaro é golpista. Mas as investigações são úteis porque o despem de vez dos trapos retóricos com os quais ele tentou se travestir de democrata” – assim o vetusto Estadão iniciou seu editorial de ontem. E arrochou: “O relatório final da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado que teria sido urdida no seio do governo de Jair Bolsonaro para aferrá-lo ao poder decerto não surpreendeu quem acompanhou minimamente a vida pública do ex-presidente. Desde quando saiu do Exército em desonra, passando por uma frívola carreira parlamentar – que, se prestou para alguma coisa, foi para enriquecê-lo, além de sua família – até chegar à Presidência da República, Bolsonaro jamais traiu seu espírito golpista. De mau militar e mau deputado a mau presidente, foram quase 40 anos de exploração da insurreição e da infâmia como ativos políticos”. Texto incontestável, imprescindível, indiscutível.

CRIME CONTINUADO

Não é novidade serem a improbidade, a imoralidade e a imprestabilidade características pessoais de Jair Messias. Incúria, incompetência e indignidade igualmente compõem o perfil público desse cidadão desde, pelo menos, 1987, quando em suas primeiras entrevistas (literalmente bombásticas) se desnudava como militar indisciplinado, insubordinado e incompetente. Então envergando, indignamente, farda do Exército brasileiro, na condição de oficial da ativa, chegou a anunciar, pela revista Veja, suas intenções terroristas, inclusive desenhando um croqui de como colocaria bambas nos quartéis e na Adutora do Guandu. Preso, julgado e condenado (por unanimidade, em março de 1988) numa primeira instância militar; se amofinou, choramingou, apelou, desmentiu-se, e – antes de ser expulso – conseguiu ser descondenado pelo STM em junho do mesmo ano, num placar de 9x4. Desonrado, deixou a farda levando suas ideias golpistas, corruptas e terroristas para o campo da política partidária. O velho e decrépito mito autoritário de hoje é o mesmo jovem e atrevido pelanco de ditador de ontem. Como diferença, apenas muitos milhões de votos a favor de suas ideias sebosas, e milhões de reais em imóveis, e joias, nos bolsos.

PERIGO E ESPERANÇA

Apesar de não surpreender ninguém, é chocante a coleção de provas arroladas contra o ex-capitão e seus áulicos no golpe de Estado frustrado em pleno andamento. Jair Messias sempre se supera em termos de covardia e delinquência. Mas existem coisas novas nesse processo em andamento. Não é novidade a inidoneidade do ex-capitão, mas é um horror renovado relembrar que tamanha degenerescência moral contamina quase 50% do eleitorado nacional. A novidade boa – repleta de esperança – é constatar, finalmente, a existência de instituições que não se acovardam ao ouvir berros do tipo “Selva!”; e que a maioria sã das Forças Armadas brasileiras é capaz de barrar, em seu seio, as intentonas de uma minoria apodrecida. A esperança de um país sem golpes e quarteladas vai se tornando realidade. Mas, ninguém se iluda, esse velho câncer não foi extirpado totalmente.