Enio Lins
Golpe tentado e derrotado: é hora de jair pagando a conta
“Tentativa de golpe” é um termo incorreto se usado como tentativa de enfiar goela abaixo do povo brasileiro como se atenuante fosse. Mas, o falso Messias não apenas pensou uma quartelada, e sim tentou a abolição violenta do Estado Democrático de Direito. A derradeira investida desse criminoso foi levada adiante no dia 8 de janeiro de 2023. Jair, ali, colocou seu bloco na rua, e foi derrotado – em primeiro lugar, dentro dos quartéis.
B DE BUNDA DE FORA
“Bolsonaro nu - Ninguém precisava da PF para saber que Bolsonaro é golpista. Mas as investigações são úteis porque o despem de vez dos trapos retóricos com os quais ele tentou se travestir de democrata” – assim o vetusto Estadão iniciou seu editorial de ontem. E arrochou: “O relatório final da Polícia Federal (PF) sobre a tentativa de golpe de Estado que teria sido urdida no seio do governo de Jair Bolsonaro para aferrá-lo ao poder decerto não surpreendeu quem acompanhou minimamente a vida pública do ex-presidente. Desde quando saiu do Exército em desonra, passando por uma frívola carreira parlamentar – que, se prestou para alguma coisa, foi para enriquecê-lo, além de sua família – até chegar à Presidência da República, Bolsonaro jamais traiu seu espírito golpista. De mau militar e mau deputado a mau presidente, foram quase 40 anos de exploração da insurreição e da infâmia como ativos políticos”. Texto incontestável, imprescindível, indiscutível.
CRIME CONTINUADO
Não é novidade serem a improbidade, a imoralidade e a imprestabilidade características pessoais de Jair Messias. Incúria, incompetência e indignidade igualmente compõem o perfil público desse cidadão desde, pelo menos, 1987, quando em suas primeiras entrevistas (literalmente bombásticas) se desnudava como militar indisciplinado, insubordinado e incompetente. Então envergando, indignamente, farda do Exército brasileiro, na condição de oficial da ativa, chegou a anunciar, pela revista Veja, suas intenções terroristas, inclusive desenhando um croqui de como colocaria bambas nos quartéis e na Adutora do Guandu. Preso, julgado e condenado (por unanimidade, em março de 1988) numa primeira instância militar; se amofinou, choramingou, apelou, desmentiu-se, e – antes de ser expulso – conseguiu ser descondenado pelo STM em junho do mesmo ano, num placar de 9x4. Desonrado, deixou a farda levando suas ideias golpistas, corruptas e terroristas para o campo da política partidária. O velho e decrépito mito autoritário de hoje é o mesmo jovem e atrevido pelanco de ditador de ontem. Como diferença, apenas muitos milhões de votos a favor de suas ideias sebosas, e milhões de reais em imóveis, e joias, nos bolsos.
PERIGO E ESPERANÇA
Apesar de não surpreender ninguém, é chocante a coleção de provas arroladas contra o ex-capitão e seus áulicos no golpe de Estado frustrado em pleno andamento. Jair Messias sempre se supera em termos de covardia e delinquência. Mas existem coisas novas nesse processo em andamento. Não é novidade a inidoneidade do ex-capitão, mas é um horror renovado relembrar que tamanha degenerescência moral contamina quase 50% do eleitorado nacional. A novidade boa – repleta de esperança – é constatar, finalmente, a existência de instituições que não se acovardam ao ouvir berros do tipo “Selva!”; e que a maioria sã das Forças Armadas brasileiras é capaz de barrar, em seu seio, as intentonas de uma minoria apodrecida. A esperança de um país sem golpes e quarteladas vai se tornando realidade. Mas, ninguém se iluda, esse velho câncer não foi extirpado totalmente.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.