Petrucia Camelo
GUIRLANDAS NATALINAS
A vida é uma exigência só; nela não há trégua. É uma marcha incontida, que, aos trôpegos, não oferece sombra e nem água fresca; e aos fortes, os desafios a enfrentar. Para se entrar na vida, nasce-se nu e chora-se diante do mundo. A vida não apascenta o indivíduo; ela tange o rebanho de forma individual, reabastecendo-se da luta que o indivíduo pode travar, para sobreviver. E um adendo se faz perscrutar: lê-se em Lucas, 11.13. A vida não está no que se possui.
O amparo do ser humano é a fé em si mesmo e em Deus que apazigua a brutalidade humana, por meio da solidez dos ensinamentos recebidos, acatados pela natureza do indivíduo. Não cesseis de vos fortificar no Senhor e apegai-vos a Ele a fim de que vos ampare (Eclesiástico 23/24).
No cristianismo, têm-se as datas importantes de maior condução na trégua da caminhada empreendida. Vivencia-se no presente a energia contagiante do Natal; imagens natalinas conduzidas pela cor e luz presentes, mesa farta, Papai Noel, imagens natalinas conduzidas pela fé serpenteiam as residências, as avenidas, os templos, refletindo na mente e no coração a fé na comemoração de um acontecimento maior, o nascimento de Jesus Cristo.
No berço divino, a manjedoura é o pórtico do mistério do nascimento de Jesus Cristo, há mais de dois mil anos. Abrigado pelas pedras que compunham a rigidez da gruta, nasce o menino divino. No nascimento era: A pedra, que os construtores iriam rejeitar, que se tornaria a pedra principal, angular no edifício da salvação da humanidade. Não era uma pedra de tropeço, escorregadia, descartável...
Por meio da fé, Jesus Cristo continua vivo, renasce a cada ano, não mais sob a gruta, mas no interior do coração humano, nas atitudes devocionais, nas palavras dos ungidos de Deus, na condução do cristianismo que toca a data comemorativa trazendo o verdadeiro significado do Natal, fazendo fluir os sentimentos da fraternidade, solidariedade e da compaixão que não se encontram no brilho exterior. Quem poderá contar a areia dos mares, as gotas das chuvas e os dias da eternidade (Jesus, filho de Sirac)
A humanidade tem a presença de Jesus Cristo da manjedoura a cruz. Mas Ele não é um rio de cruz e sangue, Ele é um mar de amor, de esperança, de vida. Desde o Seu nascimento até os dias de hoje. Jesus Cristo não criou a religião, Ele se fez religião, para dar às mulheres e aos homens devotados a oportunidade de organizarem a vida por meio da fé, colocando pedras sobre pedras, como diz o Cristo histórico: Serão minhas testemunhas em Jerusalém, em toda Judeia e Samaria, até os confins da terra. (At.). 8; Lc 24,47).
Sabe-se que, no mundo de hoje, onde campeia a ignorância sobre as necessidades do outrem e as observâncias de Deus, a lembrança de uma pobre manjedoura passa longe, como se fosse uma imagem obsoleta, mas há sempre a esperança do reconhecimento no Cristo Histórico, pois há no sentido humano, desde o nascer, uma fresta de luz focada no divino, na espiritualidade, mesmo ofuscada pelo acúmulo de informações contraditórias, materialistas, exclusivistas da ganância humana, do desvario da sexualidade, do prazer exacerbado que deixa os jovens alienados, presos às confusões mentais, sem apoio das escolas que tiraram Deus dos currículos escolares, das famílias que não se reúnem à mesa, da falta de diálogo familiar.
A figura do papai Noel é o brilho exterior reinante; as frivolidades são a tônica do hoje, a humanidade cada vez mais se distancia do significado do Natal; é preciso que as famílias se reúnam promovendo momentos de silêncio e reflexão, para fazerem as novenas natalinas, reconheçam que o Natal não é um feriado qualquer e nem uma festa pagã.
Trançai as guirlandas da festa natalina! O Natal é o dia em que o Senhor Jesus Cristo se fez humano; festejemos e alegremo-nos Nele, porque nasceu para nós. O período natalino é a reafirmação de que Cristo continua entre nós. Ele tornou todos iguais, nivelou as pedras pelo amor. E a medida do amor é amar sem medida.
Enfim, refugia-se no viés das palavras sacrossantas para não se submeter ao envenenamento do óbvio que circunda a humanidade. Assim os elementos trocavam entre si suas propriedades como um instrumento de cordas, os tons mudam a natureza da melodia, embora conservem
a mesma sonoridade (Livro da Sabedoria: cap. 19. V.18)
Petrucia Camelo
Sobre
Petrucia Camelo é Assistente Social, nasceu em Viçosa-AL. Casada com o médico e escritor Arnaldo Camelo. Possui 14 livros publicados, dois livros premiados. Pertence a Academia Alagoana de Letras. Sócia Honorária do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Sócia da UBE-PE. Fundadora e Presidente do Clube Café, Vinho e Arte - CCVA.