Enio Lins

Correções a soldar, e umas linhas a acrescentar, ao histórico de Marta Arruda

Enio Lins 08 de novembro de 2024

Escrever é preciso, corrigir é mais preciso ainda. No artigo sobre Marta Arruda e sua exposição na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, publicado em 19 de outubro, este que vos escreve tropeçou em algumas informações, e corrigi-las é precisão incontornável. Fá-lo-emos agorinha, para coincidir com o dia da Mostra Guiada carioca. 

UMA PIONEIRA

Cheia de dedos, uns dias depois da publicação, Marta ligou e perguntou: “Meu amigo, gostei tanto do que você escreveu..., mas..., será que poderia corrigir umas coisinhas?”. Pode e deve ser feita toda correção. Revisar o escrito e restaurar a exatidão do informado é obrigação e satisfação, pois o problema é eternizar o erro. Vamos lá: Marta Lúcia de Arruda Pereira foi aluna do SENAI/AL, num curso ministrado numa unidade móvel instalada em Atalaia, por seis meses. Ali, no município alagoano fundado por Domingos Jorge Velho, ela aprendeu sua primeira profissão. Em boa parte dos acampamentos que a soldadora, única mulher no pedaço, frequentou, “não tinha alojamento exclusivo, dormíamos todos juntos com muito respeito”. E, acrescenta ela ter se iniciado na arte da escultura em metal “no canteiro de obras da Mendes Júnior, no Gasoduto Nordeste, durante uma greve, resolvi fazer um enfeite para minha casa, e ali surgiu minha primeira escultura e minha primeira seleção para o Salão de Arte Contemporânea de Pernambuco. [Fui fazendo mais] até chegar ao ponto de escolher trabalhar [como soldadora] ou ser escultora”. Marta escolheu a vida mais dura: ser artista e viver de sua arte. 

DURA LUTA PARA VIVER DA ARTE 

Marta, a soldadora-escultura, criou sozinha quatro filhas e um filho: Flávia, Aline, Raquel, Marcos Antônio e Soraya. Proletária de si própria, como dito no artigo anterior (e mantido agora, sem alteração), Marta Arruda teve e tem uma vida muito árdua, sobrevivendo em um mercado sempre incipiente e árido e, ainda por cima, sofrendo com cópias não autorizadas de sua arte, sem receber remuneração, em procedimentos enviesados cometidos por quem considera de “domínio público” as artes populares. Aconteceram casos de visitas a seu ateliê para, solertemente, copiarem suas obras e reproduzi-las, à revelia da autora, como portões, janelões e outros usos “de grátis”. Digo mais, por minha conta e risco (se errar, corrijo novamente), que nossa brava artista-operária prejudicou um bocado sua saúde com a dureza de seu trabalho, a ponto de não poder comparecer à abertura dessa sua histórica exposição no Rio de Janeiro, por estar hospitalizada. Felizmente, hoje, estará presente em solo carioca para ser a própria condutora da mostra guiada. 

Presença luminosa

“Com mais de 50 peças de várias de suas fases, a exposição gratuita MARTA ARRUDA: 40 ANOS DE ESCULTURAS terá uma programação especial no dia 8 de novembro, com a luminosa presença de Marta - ela ainda não esteve na mostra comemorativa. Nesse dia 8, a artista estará à frente de uma visita guiada às 16 horas, de uma Oficina de Modelagem Lúdica e Sensorial às 17 horas, na qual apresentará o seu processo criativo e vai direcionar a produção de maquetes em fio rígido e cartolinas coloridas, e do lançamento do catálogo impresso da exposição, às 19 horas” – nesses termos, o material de divulgação da Caixa Cultural, assinado por Mônica Ramalho, informa ao público carioca sobre a programação desta sexta-feira e registra o fato de que a artista, até então, não havia visto a própria exposição. Marta, parabéns! Caixa, parabéns! E, repetindo o dito no artigo anterior, sem corrigendas: Aguardamos essa exposição em Alagoas!