Enio Lins

Para onde foi a mão-de-obra dos canaviais desplantados?

Enio Lins 06 de novembro de 2024

Matéria da combativa jornalista Lenilda Luna, publicada no site UFAL Notícias, informa sobre pesquisa realizada pela Universidade Federal de Alagoas sobre os destinos tomados por trabalhadores e trabalhadoras que eram do eito da cana em nosso Estado. Estudo muito importante, ressalte-se. E aplauda-se. 

RAÍZES PROFUNDAS Canaviais fazem parte do cenário do território alagoano desde os primórdios da colonização, com os engenhos Escurial, Maranhão e Buenos Ayres, trio manufatureiro de açúcar cuja fundação, em terras de Porto Calvo, é creditada a Cristóvão Lins, nome aportuguesado de Christoph Linz von Dorndorf, germânico nascido na vila de Donndorf, região alemã da Turíngia, por volta do ano de 1530 e findando seus dias em 1602, aos presumíveis 72 anos, em terras portocalvenses. Do século XVI em diante, diferentemente dos territórios limítrofes (Pernambuco, Sergipe e Bahia), que diversificaram suas economias, Alagoas manteve a primazia açucareira por quatro séculos. E o eito da cana pouco mudou, em termos do corte e colheita, no decorrer de quatrocentos anos. 

MUDANÇAS PROFUNDAS 

No apagar das luzes do Século XX, modernizações tecnológicas (uso de máquinas nos campos planos) e mudanças na legislação trabalhistas causaram alterações importantes no árduo trabalho do corte de cana. Mas, mesmo com essas modernidades, a forma de cortar a cana tendo como base a foice afiada e o braço forte seguiram sendo a mesma coisa nesses quatrocentos anos, ocupando, em tempo integral, durante as safras, centenas de milhares de pessoas por volta do ano 2000. Esse cenário muda muito rapidamente com a crise no setor sucroalcooleiro que marca a transição para o Século XXI. Apenas observando o noticiando pela mídia (sem consulta direta ao setor), em duas décadas, entre 1990 e 2020, 13 usinas teriam fechado em Alagoas, numa redução de 37 para 24 unidades. E, ainda segundo a imprensa, a previsão para a safra 2024/2025 seria de apenas 15 unidades moendo. Apesar setor sucroalcooleiro alagoano ser considerado ainda o mais produtivo no Nordeste, o baque é impressionante. O segmento mais prejudicado, até prova em contrário, é a base da pirâmide açucareira: cortadores e cortadoras de cana. 

E AGORA, PÓS-CANAVIAL? 

“Por onde andas e o que fazes? A vida depois do canavial” é o título da pesquisa coordenada pelo professor Rodolfo Lima, do curso de Administração da UFAL. Voltada para identificar os destinos dos trabalhadores canavieiros que foram deslocados do mercado de trabalho devido à redução do cultivo de cana em Alagoas, foi aprovada para financiamento pelo CNPq – fato que Rodolfo Lima, corretamente, salienta: “depois de um passado recente de desfinanciamento da Ciência brasileira, essa volta dos editais é extremamente importante. Não se consegue fazer pesquisa de qualidade sem os recursos”. Formada por pesquisadores em diversas áreas, como Economia, Psicologia e Sociologia, a equipe é composta também pelos professores Allan Souza, Cassiano Rumin, Charles dos Santos, Rodrigo Pereyra e Tainá Reis e tem como bolsista Danilo Santos, do curso de Ciência da Computação do Campus UFAL Arapiraca. 

VOTO DE LOUVOR 

Como sempre repetia o professor, usineiro e intelectual alagoano Cândido Toledo (1927/2012), “Universidade é pesquisa, sem pesquisa não existe ensino superior”. E a Universidade Federal de Alagoas tem se firmado e avançado como centro de excelência em pesquisas, e pesquisar a mobilidade social do antigo, e enorme, exército de cortadores de cana é um dos estudos mais importantes no universo socioeconômico alagoano. Parabéns, e boa sorte nesse eito tão significativo.