Petrucia Camelo

NATURALIDADE DA MORTE

Petrucia Camelo 31 de outubro de 2024

Ao pegar a caneta para escrever sobre a morte, o escritor observa que a morte é um fato natural para a totalidade das coisas existentes, pois tudo fenece, e não é somente o ser humano; é, inclusive, a hora que passa, e se deduz que o que fica a ser imortalizado, de alguma forma, são os fazeres da espécie humana, nas artes, e no amor.

A morte é o abalo da existência; não se vive a morte, e sabe- se que não se pode fugir dela; e que os seres humanos vivem constantemente sob a ameaça da morte e não têm como se rebelar. O que fazer, então? É preciso aproveitar e reverenciar a vida, até mesmo havendo dor.

Como se lê em Platão, (Fed. 64 c): a morte é a separação da alma do corpo. Vê-se, a complementar o pensamento de Platão, Nicola Abbagnano: Com esta separação, de fato, inicia-se o novo ciclo da vida da alma: seja que este ciclo se entenda como o reencarna-se da alma em um novo corpo, seja que se entenda uma vida incorpórea.

Contudo, sem querer definir ou conceituar a morte, mas somente complementar o dizer de Platão, adere-se a outro pensamento filosófico: cita-se, então, Plotino, que sugere a concepção de que se a vida e a alma existem depois da morte, então a morte é um bem para a alma, porque esta exerce melhor sua atividade sem o corpo. No entanto, o pensamento de Plotino gera um antagonismo, porque são estranhos à vida religiosa, nada tem a ver com a religiosidade.

Mas, voltando ao fato de que tudo fenece; deve-se dizer que se tem a morte como a passagem para a continuidade da vida pela imortalidade da alma, como rezam várias doutrinas religiosas, mas há ainda várias conotações a respeito da morte atingível, intelectualmente sentida pelo mundo sensorial: a morte histórica, artística, a morte do empreendedorismo, a morte ambiental, morte das perspectivas realizáveis e assim por diante.

Pensando, ainda a morte, empiricamente, tenta-se explicar o julgamento divino, pode-se tocar em Deus na compreensão do julgamento divino sobre o ser humano, a iniciar pela igualdade dos homens perante a morte. Todo ser vivente morre. E filosoficamente vê-se em Epicuro: Quando estamos nós, a morte não está; e quando está a morte, não estamos nós. Baseados nessa sentença, seria o ser, então, apartado da alma e da matéria? Individualizados, com tribunal específico, em locais e tempo diferentes? Com essa separação, a vida, então, traria, o julgamento do corpo em atitudes e comportamentos, e a morte da alma por meio da consciência, do intelecto dos resíduos dos bons ou maus sentimentos da qual a alma é feita? Inicia-se, então, o novo ciclo da vida da alma, ou ainda, como um fim de um ciclo de vida.

E de fato, como encontrar a palavra mais pura, mais acertada, mais determinante para uma resposta sobre as certezas e incertezas existenciais? O que explicar sobre esse mundo mágico em que se vive quando tudo em volta se esvai, abruptamente ou paulatinamente? E a morte toma o seu lugar, espraiando-se?

Em realidade somente têm-se as suposições das conotações filosóficas e da fé, e o que se tem de palpável é o que se registra sobre a lápide: o nome, data de nascimento e morte, e de quando em quando e nem sempre: flores, lágrimas e velas a velarem ossos limpos, que também tudo registram.