Enio Lins

Vera Gamma e suas artes solares entre a Provence e Maceió

Enio Lins 12 de outubro de 2024

Nesta edição, vamos à arte. Mas recomendo mesmo é ir até a Galeria Gamma e ver a mostra “À Procura do Sol” – que segue brilhando durante todo este mês de outubro. Completando o serviço logo neste primeiro parágrafo, passo o endereço: Av. Luís Ramalho de Castro, 899, Jatiúca, entrada gratuita, com portas abertas de segunda a sexta, das 14 às 19 horas. Mais: o local conta com um excelente café.

SOL DA VERA

Vera Gamma é artista múltipla, com presença reconhecida no campo das obras tridimensionais, território ao qual acrescentou mais uma dimensão, o tempo – aqui traduzido como movimento – para uma série de performances visuais originalmente distribuídas ao longo do Rio Rhone, na região francesa da Provence. Às três dimensões tradicionais (altura, largura, profundidade) de sua arte, Verinha acrescentou naquela experiência a dimensão tempo/movimento com o uso de bandeiras multicoloridas, emblemáticas, e o gestual próprio das bailarinas solo. Com o suporte técnico-sentimental de Dalmo Peixoto Filho, assinale-se. Um tributo ao sol e à busca dos significados interiores através dos movimentos de sete flâmulas diferentes, cada uma costurada em cores e recortes instigantes, e integradas às vestes da artista. Experiência única, obviamente. Quem viu, viu; sentiu. Quem não viu, não verá jamais – mas poderá sentir aquele acontecimento quadrimensional num reflexo contido nas obras bidimensionais expostas em “À Procura do Sol”. Em verdade, se trata de reflexões sobre um momento da arte, uma outra obra cuja inspiração é obra anterior e não sua mera reprodução.

O LIBRETO

Ler o libreto sobre a exposição, onde, dentre outras informações, está descrito o périplo pelas ribeiras do Rhone, é atitude indispensável para entender o conjunto dessa obra. É um pulo para 5D, com o acréscimo de suas próprias reflexões às reflexões da artista como uma dimensão adicional, considerando a experiência original como em “formato 4D” (altura, largura, profundidade, tempo/movimento). Como todo velho e bom impresso, a publicação “Vera Gamma – Á Procura do Sol”, é em formato 2D (altura e largura) e todas as outras dimensões ficam por sua conta. Brochura com 60 páginas, é algo além do catálogo – descrição indispensável a quaisquer mostras – e mais se aproxima de uma reportagem, de um artigo filosófico, com a vantagem de estar muito bem ilustrado, por croquis, fotos das performances e bandeiras originais, e, naturalmente, reproduções dos quadros que compõem a exposição em cartaz.

UM RESUMO

Vera redesenha, desde sua performance provençal, o sentimento do que a cultura romana da antiguidade definia como “Nativitas Solis Invicti”, a celebração mística dedicada a maior de todas as divindades pagãs, o Sol Invicto, a fonte de luz e da vida. Para a artista, o sol, como fonte suprema de energia para a terra e todas as criaturas aqui viventes, é captado por todos os sentidos e, quando isso ocorre, se traduz como vibração transcendental. Essa transcendência, para Vera, é o estado de criação, a expressão da arte que flui pela visão, audição, tato, paladar, olfato, intuição, meditação, contemplação... Esse sentimento está exposto nas telas, pintadas em traços geométricos e orgânicos, em policromias de tons vibrantes (mesmo quando focam na sombra) e dançantes, tão tremulantes como suas bandeiras ensolaradas.

Melhor mesmo é você ir lá, nesses primaveris dias de sol tropical, ver e sentir.