Alisson Barreto

PER CRUCEM AD LUCEM

Alisson Barreto 21 de setembro de 2024
PER CRUCEM AD LUCEM
PER CRUCEM AD LUCEM - Foto: Alisson Barreto

PER CRUCEM AD LUCEM


Pela Cruz para a Luz, como declara o título, é um mistério muito mal compreendido, tanto entre os que o rejeitam veementemente como entre os que o apreciam irrefletidamente.


Muitos o rejeitam, por acreditar ser um apego ou propensão motivacional para buscar a dor ou o sofrimento. Alguns até pelo simples fato de o associarem a católicos, o que é por si ensejador de repulsa, para os tais. Fugir da dor e do sofrimento pode implicar um negar a fé, em dado momento ou situação; o que é muito comum quando se está diante de uma pressão ideológica ou mesmo uma ameaça à vida, como ocorre em casos de trabalho entre extremistas, de ambientes universitários a regiões muçulmanas.


Outros tantos o aprovam simplesmente por ser amplamente divulgado na igreja, ainda que sem tradução ou melhores desdobramentos. Entre os quais, inclusive, muitos o utilizam para justificar o silício, até mesmo, como frase apoiadora do dualismo corpo versus alma. Assim como o prazer pelo prazer gera infidelidade, o sofrimento pelo sofrimento gera depreciação e degradação. Não se pode esquecer que Deus criou não somente nossa alma espiritual como também nosso corpo.


É preciso recordar que se, para a Santa Igreja, a cruz devesse ser buscada por si mesma, o dia mais importante da liturgia cristã seria a sexta-feira, e não o domingo. A cruz sem Jesus é recordação de condenação, enquanto a cruz com Cristo é instrumento de salvação.


Na contemplação da cruz, subsuma-se a maior prova e declaração de amor: dar a vida pelas pessoas amadas.
A vitória sobre a morte passa pela morte d’Aquele que a vence. A cruz, que era instrumento de condenação pelos romanos pagãos, passou a ser instrumento de conforto e salvação em Cristo.


Jesus não buscou a cruz por ela própria, aceitou-a e amou tê-la porque por ela venceu a morte, deu-Se em oferta sacrifical a Deus Pai
. Jesus é o Sacerdote que faz a maior das ofertas a Deus: oferece a Si próprio como sacrifício suficiente. A cruz é a haste na qual o Cordeiro de Deus é elevado ao Pai e à vista de todos.


Atenta contra a fé e a razão uma sociedade que aceita os sacrifícios de um atleta rumo à medalha de ouro, mas não aceita o sacrifício amoroso do caminho para a Pátria Celeste.
Inclusive, há muitos que se sacrificam e sacrificam suas famílias por dinheiro ou por ideologias políticas, mas rechaçam ou tripudiam de quem, sem prejudicar ninguém, faz abnegações pelo que crê.


É no sacrifício muscular de levantar pesos que os músculos crescem. Do sacrifício intelectual da abnegação em favor do foco nos estudos chega-se à aprovação. E no sacrifício espiritual de suportar as dificuldades cotidianas, por amor a Cristo e com Cristo – que é chamado de aceitar ou abraçar a cruz – cresce-se no amor, na fé e na esperança. Eis o sentido do “per crucem ad lucem”.


O fato de o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo ter sido suficiente não significa que não se atualize no Corpo de Cristo. A cruz de Cristo é única e seu sacrifício também é ímpar; mas é importante recordar que o Corpo de Cristo segue carregando a cruz e oferecendo seus ofertórios a Deus. Às vezes os membros do Corpo de Cristo o oferecem com a própria vida, como é o caso de Santo André, São Pedro e tantos outros.


Compreender o sentido salvífico da Cruz com Cristo ajuda não apenas a reconhecer o valor do martírio como também a se superar por amor.
Qual mãe ou pai que abraça a maternidade ou paternidade, respectivamente, não abdica e se supera por amor? O sofrimento não é para desistir ou travar no medo, mas para vencer e se tornar melhor.


O sofrimento com Cristo é meio cristificante e sem Ele é depreciativo. A cruz com Cristo é instrumento santificante, mas a imposição dela a outros é degradante. Quem compreende isso entende o porquê de a cruz ser escândalo para os pagãos e salvação para os cristãos. Quem não entende, ainda não consegue enxergar e aceitar Jesus como Ele é.


Não é à toa que celebramos a paixão, morte e ressurreição de Cristo. Não é à toa que há um Jesus Cristo crucificado nos altares das igrejas. Não é à toa que há o momento de dobrar os joelhos e há o momento de erguermo-nos nutridos do Corpo e Sangue de Cristo. Não paramos na morte, pairamos no Ressuscitado.


Maceió, 21 de setembro de 2024.


Alisson Francisco Rodrigues Barreto