Enio Lins

Histórias dos banguês, das usinas, e dos pioneirismos alagoanos

Enio Lins 30 de agosto de 2024

Nesta sexta-feira, 30 de agosto, o Sindicato da Indústria do Açúcar e do Etanol de Alagoas (Sindaçúcar/AL) completa 80 anos. Sob a batuta do presidente da entidade, Pedro Robério de Melo Nogueira, a comemoração se anuncia no mais alto estilo, com a presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, também ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

HISTÓRIA MARCANTE

No século XVI foram construídos em terras de Porto Calvo e adjacências os engenhos Escurial, Maranhão e Buenos Aires, empreendimentos creditados a Christoph Linz von Dorndorf (Cristóvão Lins, 1529/1602), nascido no então Sacro Império Romano-Germânico. Mais detalhes sobre os Linz no livro “Engenho Riachão”, de Jarbas Oiticica (1924/2007). Sobre a antiga forma de produzir açúcar, recomenda-se “O Banguê nas Alagoas”, de Manuel Diégues Júnior (1912/1991). Em 1891, o francês Barão de Vandesmet implantou a Usina Brasileiro, a primeira nessas bandas, no município de Atalaia – experiência registrada em “Contribuição à história do açúcar em Alagoas”, de Moacir Sant’Ana (1933/2022), e em excelente resumo no site História de Alagoas, por Edberto Ticianeli. Por sua vez, o filme “Joana Francesa”, de Cacá Diégues, apresenta a dramatização do esmagamento dos velhos engenhos pelas novas usinas, processo de inevitável avanço capitalista e que deixou fortes marcas na classe média alagoana, para onde foi despachado o bagaço dos antes poderosos senhores de engenho depois de três séculos no topo da pirâmide social.

ÁLCOOL NA HISTÓRIA

Durante praticamente todo o século XX as usinas seguiram como centro da economia alagoana, concentrando o bônus e o ônus desse protagonismo, com as crônicas dos anos 70 indicando cerca de 200 mil empregos, diretos e indiretos, ofertados em 27 usinas (dados a conferir), e se posicionando na vanguarda na utilização do álcool combustível. Hoje, emprega diretamente 60 mil pessoas em 17 unidades. O pioneirismo alagoano neste campo é facilmente localizável na internet, como o da Usina Serra Grande Alagoas, cuja campanha publicitária divulgava seu novo produto, lançado em 23 de junho de 1927: “Usga - Combustivel Nacional Pioneiro do álcool-Motor no Brasil, succedaneo da gasolina”. O parque industrial alagoano esteve na linha de frente do Proálcool, e o polêmico Projeto Chambrin sempre é lembrado, como numa reportagem no site 4 Rodas: “Em 22 de junho de 1976, Alagoas foi palco de um evento histórico, que contou com a presença do então governador Divaldo Suruagy e mais 200 convidados. Na ocasião, o engenheiro francês Jean Pierre Chambrin demonstrou seu incrível carro movido a água, que, segundo a Folha de S. Paulo, percorreu 25 km a 80 km/h, sem qualquer problema”. Era água e álcool, assinale-se.

PROBLEMAS DO ÁLCOOL-MOTOR

Todos esses vanguardismos alagoanos são, mais ou menos, lembrados. Mas o primeiro livro no Brasil (quiçá nas américas) sobre o álcool como combustível estava esquecido. Até hoje. Publicado em 1942 pela José Olympio Editora, com prefácio de José Lins do Rego, a obra sumiu das livrarias e dos arquivos, inachável até nos alfarrábios mais rechonchudos. Falamos de “O problema do álcool-motor”, escrito por Moacyr Soares Pereira (1907/2001). Pedro Robério tanto fez que encontrou um raríssimo exemplar. Comprou-o por preço nunca delatado e emprestou a preciosidade para o governo de Alagoas reeditar. Assim foi feito. Nesta sexta-feira, essa obra, em novíssima edição, será apresentada ao público. Um belo presente de aniversário para a memória alagoana.