Enio Lins

Coleção Perseverança e seu tombamento nacional: mérito do IHGAL

Enio Lins 17 de agosto de 2024

Finalmente foi concluindo o processo decorrente do pedido formalizado pelo presidente do IHGAL, Jayme de Altavila, em 13 de janeiro de 2012, de tombamento voluntário, no nível nacional, da Coleção Perseverança. Esse acervo, de propriedade do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, já se encontra tombado no nível estadual pela decisão do Conselho Estadual de Cultura, em 1º de agosto de 2012, devidamente homologada pelo governador Teotônio Vilela Filho, através do decreto nº 25.864, publicado no Diário Oficial do Estado de Alagoas em 12 de abril de 2013.

PATRIMÔNIO NACIONAL

Assim noticiou o site www.gov/br/iphan/pt-br: “Em 22 de julho, em um avanço significativo para a preservação da cultura afro-brasileira, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) publicou no Diário Oficial da União o tombamento provisório da Coleção Perseverança, com indicação de inscrição no Livro do Tombo das Belas Artes, Livro do Tombo Histórico e Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico, pelo seu valor etnográfico”. Decisão muito importante, referendando o esforço do IHGAL em preservar aquele fabuloso patrimônio e garantir sua permanência em Alagoas, resistindo a todas as pressões ao longo de 75 anos e negando todas as propostas (inclusive vindas do Exterior) de “passar adiante” a coleção que contém a memória da brutal violência política/eleitoral que destruiu terreiros maceioenses em 1912.

CONFIRMAÇÃO IMPORTANTE

Convém lembrar a inexistência de hierarquia legal entre os tombamentos municipal, estadual e nacional. Um nível não se sobrepõe a outro. Neste sentido, o tombamento da Coleção Perseverança está garantido há 11 anos. Mas a valoração do IPHAN, além da honra do status de Patrimônio Nacional, amplia a capacidade de construção de parcerias indispensáveis, facilitando o acesso às verbas federais e ao financiamento privado. Ressalte-se que a conservação de todas as peças da Coleção Perseverança é a melhor que pode ser encontrada em quaisquer instituições museológicas alagoanas – mas necessita de restaurações periódicas, como todo e qualquer acervo.

FONTE DE ESTUDOS

Segue a reportagem do IPHAN: “[o acervo] tem sido estudado por intelectuais como Abelardo Duarte e Théo Brandão”, acrescentando: “A coleção representa a memória e resistência desse episódio, que é conhecido como um dos maiores atos de intolerância religiosa do Brasil”. É fundamental esse reconhecimento ao memorável trabalho de Abelardo Duarte e Théo Brandão, dois grandes pesquisadores que, de vez em quando, são vítimas (in memoriam) de discriminações identitárias e ideológicas por serem “brancos e médicos” – atitude obtusa que leva também a fechar os olhos de parte da militância para o excelente trabalho de Fernando Gomes. Polêmicas à parte, a Coleção Perseverança foi, é, e continuará sendo, fonte de pesquisas com todo tipo de recortes. Mas ouso considerar um erro a classificação exclusiva de “intolerância religiosa” para o Quebra de Xangô, pois todos os relatos de época indicam aquela onda de terror como produto da guerra mortal entre dois grupos oligárquicos, oposição x situação, respectivamente liderados por Fernandes Lima e Euclydes Malta. Atacados por uma milícia ligada a Lima, os terreiros vitimados eram ligados a Malta, conhecido entre o povo de santo como “Leba”.

Assim, a Coleção Perseverança é algo muito além das questões de fé, como atestam peças não-religiosas presentes naquele acervo. É um tesouro laico - de importância universal – que contém elementos religiosos, étnicos, políticos, sociais, ideológicos e artísticos.