Enio Lins

A fogueira tá queimando/ Em homenagem à eleição

Enio Lins 02 de julho de 2024

Cantou Luiz Gonzaga: “A fogueira tá queimando/ Em homenagem a São João/ O forró já começou/ Vamos gente, rapapé nesse salão”. Agora, encerradas as festas juninas, é que as labaredas vão subir nas campanhas municipais. Em Maceió o quadro está morno, capaz de gerar ilusões a torto e à direita (expressão cuja norma culta indica ser “a torto e a direito”, aqui usada como reza a compreensão popular: “à esquerda e à direita”). À destra, se acredita numa vitória fácil do atual prefeito; a canhota acha que várias candidaturas é o melhor caminho. O fato, inegável, é que apenas a fogueira de JHC está crepitando, solitária – e há muito tempo. As várias oposições ainda juntam madeira e escolhem os locais para acender o lume.

FAVORITISMO USUAL

Desde quando recriada no Brasil, pela Emenda Constitucional nº 16, em 1997, a reeleição para mandato consecutivo no Poder Executivo tem consagrado como regra a vitória de quem se candidate estando no poder. Existem exceções, raras. Negar o favoritismo de quem concorra aboletado na cadeira de prefeito é obtusidade, assim como é tolice supor sua invencibilidade, pois a política é a arte de quebra de paradigmas – e o recente pleito presidencial prova a capacidade das forças de oposição derrotarem uma candidatura favorita à reeleição. Comemorar pesquisas também é besteira, pois essas mostram apenas um corte no tempo e indicam tendências, mas a inteligência política sabe usar muito bem as estatísticas para reverter uma maré desfavorável.

CENÁRIOS MACEIOENSES

Na capital alagoana, endereço mais significativo para as disputas municipais no Estado, o quadro político segue claro na mesma polarização: de um lado Caldas e Lira, do outro lado Paulo Dantas e Calheiros. Numa posição estratégica, até agora fora do ringue, pontua Marcelo Victor, presidente da Assembleia Legislativa. Nas últimas semanas, o movimento mais importante nesse cenário é a possibilidade de dissensão no grupo situacionista municipal, pela insatisfação da equipe Arthur Lira com a colocação de uma cunha no meio do processo de escolha do vice. No lado oposicionista, a reafirmação da separação entre PT e MDB não chega a ser uma novidade, nem tem o potencial negativo de um racha entre JHC e Lira, mas é algo a ser observado. Até agora, a tendência dessas fissuras, em cada grupamento, é não desaguarem em rompimentos irreversíveis, mas...

TENDÊNCIAS ULULANTES

Como sempre, desde quando se intercalam as eleições municipais e estaduais, as peças movem-se pelo poder da eleição estadual. É esse interesse, o da vitória para o governo do Estado e para a Assembleia Legislativa, o motivo central das arrumações político-partidárias nas disputas pelas prefeituras. Todas as principais lideranças em Alagoas (e nos demais Estados) se posicionam em 2024 pensando em 2026, e as prefeituras – especialmente as das capitais – jogam o mesmo papel, de degrau intermediário fundamental para o patamar mais importante, a ser decidido dois anos depois. Os atritos internos em cada grupo refletem essa condição, a ocupação de espaços para a disputa seguinte e, nesse sentido, uma querela aparentemente secundária hoje pode se consolidar como ruptura real com efeito imediato. Toda tensão é verdadeira e toda atenção é pouca neste momento – tudo pode acontecer, inclusive nada. Inúmeras são as alternativas e, em Maceió, a parada não está definida por antecipação. Tem muita lenha para ser colocada nas fogueiras e muito rapapé para acontecer nesse salão.