Enio Lins

Ovo da serpente: perigo da neonazificação ronda o mundo

Enio Lins 07 de junho de 2024

Estampa a revista Fórum, em reportagem de Ivan Longo: “Mais de 350 milhões de pessoas vão às urnas, em diferentes países, entre esta quinta-feira (6) e domingo (9), para aquele que é um dos maiores pleitos eleitorais do mundo. Trata-se das eleições ao Parlamento Europeu, única casa legislativa transnacional do mundo e que contará, este ano, com 720 deputados eleitos pela população dos 27 Estados-membros da União Europeia”, explicando: “é naquela casa legislativa que se formula a governança europeia com projetos que podem impactar não só o continente, como todo o mundo. Suas decisões têm peso, por exemplo, em acordos comerciais, políticas de imigração e ações contra a mudança climática, causando efeitos globais”. E mais: “as últimas pesquisas de intenções de voto mostram que a nova legislatura deve sofrer uma guinada à direita, puxada principalmente por países como Alemanha, Espanha e Portugal, que observam um crescimento assustador da ultradireita” e “na maior economia da Europa, a Alemanha, a ultradireita com nuances neonazistas já é a segunda maior força política para o pleito”.


A LUTA CONTINUA!


Uma das atitudes mais emocionantes nessa resistência ao neofascismo é a de um grupo de judeus, sobreviventes do holocausto nazista, com idades entre 81 e 102 anos, que publicou uma carta aberta pedindo aos jovens que não votem na extrema-direita. “Não pudemos impedir àquela altura. Mas vocês podem fazê-lo hoje", conclamam. “Para milhões de vocês, as eleições europeias são as primeiras de suas vidas. Para muitos de nós, podem ser as últimas”. São apenas oito pessoas idosas – como Ruth Winkelmann, com 95 anos, Walter Frankenstein, 99 anos –, mas que mantêm acesa a chama da luta contra um inimigo insidioso, criminoso e muito poderoso: o ideário da ultradireita.


MEMÓRIAS DO HORROR


Eva Umlauf, judia de 77 anos, libertada de Auschwitz juntamente com a mãe quando tinha apenas dois anos, deixou um apelo aos mais jovens, em reportagem da RTP: “O número que marcaram no meu braço é um lembrete constante, um aviso de outro tempo, que nunca deve voltar. Mas para isso precisamos da participação ativa dos jovens no processo de tomada de decisão para garantir que o ódio e a propaganda de que fomos vítimas naquela época não se repitam”. Leon Weintraub, de 98 anos, subscritor da carta, passou grande parte de sua juventude “em diversos campos de concentração, explicou que ‘quatro dos [seus] parentes mais próximos foram assassinados’. Eles foram mortos ‘como resultado [...] desses pensamentos radicais, de desprezo pelos outros, de xenofobia’, enfatizou”, segundo reportagem do site Aventuras na História.


PERIGO GLOBALIZADO


Como se sabe, o perigo da ascensão da ultradireita não se restringe ao Velho Mundo, nem muito menos às atuais eleições para o Parlamento Europeu. Neste momento, a prática neofascista impera, num exemplo de ironia assassina, em Israel – conforme corajosamente denunciado, desde 1948, por judeus humanistas como Einstein, Hanah Arendt (in memoriam); hoje, na Ucrânia, militares do Batalhão Azov exibem despudoradamente insígnias nazistas. No Brasil, a direita ensandecida enveredou pelo campo da mitologia patriotária e domina parte expressiva do eleitorado, enquanto a Argentina virou um picadeiro, um circo sem pão, onde um apalhaçado direitista intensifica a fome e a miséria do povo para elevar, ao máximo, os lucros da oligarquia financeira. Resistir, combater sem tréguas todas essas tendências, é uma ação de sobrevivência civilizatória em qualquer lugar do planeta.