Enio Lins

Reconhecimento ao Estado Palestino, ainda que tardio, é ato de justiça e coragem

Enio Lins 23 de maio de 2024

Aconteceu ontem mais um capítulo da saga dos palestinos pelo direito à vida e a viverem em seu próprio país: Noruega, Espanha e Irlanda anunciaram o reconhecimento de um Estado Palestino independente. O anúncio foi feito, em conjunto, por Espen Barth Eide, ministro das Relações Exteriores da Noruega; Pedro Sánchez, primeiro-ministro da Espanha e Simon Harris, primeiro-ministro da Irlanda.

CORAGEM E FIRMEZA

Apesar dessa posição vir a ser confirmada oficialmente no próximo dia 28, o simples anunciar desse justo e tríplice posicionamento já é um grande avanço. Esse prazo significa dizer também que essas três nações sofrerão – no mínimo – seis dias de intensas pressões e chantagens dos sionistas israelenses e de seus apoiadores americanos. Pressões e chantagens que, em maior ou menor grau, acompanharão esses países por muito mais tempo. Temos, portanto, uma demonstração de firmeza e coragem por parte dos governos da Noruega, Espanha e Irlanda.

UM FIAPO DE JUSTIÇA

Na verdade nua e crua, esse reconhecimento, nas atuais condições, tem efeito meramente político e moral. É gesto solidário importantíssimo, embora tardio. A resolução da ONU pela criação de tal país, há 76 anos, foi rigorosamente sabotada desde antes de ser anunciada. E quando, finalmente, mais nações importantes reconhecem o Estado Palestino, o que seria esse país foi transformado em ruínas, um cemitério à céu aberto, terra arrasada e ocupada freneticamente por quem deveria ser o vizinho. Mas esse fio de justiça, essa brecha de luz, serve como alento e promessa de alguma solução futura, mesmo que em teoria.

LENTO HOLOCAUSTO

Desde o início do Século XX, vindos de vários países, milhões de estrangeiros autoidentificados como “judeus” foram tomando conta de terras habitadas até então, majoritariamente, por árabes. Buscavam esses migrantes espaços em que, em períodos anteriores ao ano 70 de nossa era, existiram os reinos de Judá e Israel. Os conflitos se ampliaram com a ocupação organizada pelo Movimento Sionista, apesar de persistirem, até meados de 1946, exemplos de convivência pacífica e colaborativa entre comunidades árabes originárias e judeus vindos especialmente da Europa. Com a criação unilateral do Estado de Israel, em 1948, a guerra se instalou de forma irreversível e com resultados invariavelmente desastrosos para a população nativa palestina, que tem sido expulsa de suas terras e lentamente assassinada.

MASSACRE FINAL?

Desde o inexplicável êxito do ataque de militantes islâmicos em 7 de outubro de 2023, está em marcha acelerada o que pode ser considerado como o “avanço final” da ocupação sionista sobre 100% do território sugerido pela ONU, em 1948, para o Estado Palestino. Os moradores da Faixa de Gaza, incapazes de se defender do poder avassalador das forças armadas israelenses, estão sendo massacrados desde então. Tão evidente é a conivência da defesa de Israel para aquela invasão que o diretor do serviço de inteligência militar israelense, general Aharon Haliva, pediu demissão (seis meses depois), alegando “responsabilidade” por “ter falhado” no ataque do Hamas em 7 de outubro. Aquela ação (muito suspeita), com mais de mil mortes, serviu como a justificativa para o genocídio que está sendo praticado contra a população civil, em Gaza, e para a ocupação total do solo que restava aos palestinos.

Assim, mesmo sem espaço físico para a instalação do Estado Palestino, vale a atitude corajosa de seu reconhecimento.