Enio Lins

Uma águia de Haia, finalmente, levantou voo sobre o genocídio palestino?

Enio Lins 22 de maio de 2024

Apesar do atraso, merece aplausos a decisão do Tribunal Penal Internacional (Tribunal de Haia) de apreciar o pedido de prisão para dirigentes israelenses e do Hamas por crimes de guerra e crimes contra a humanidade. A iniciativa, justa e irretocável, entretanto, não causará maiores embaraços aos criminosos que atualmente dirigem Israel – Bibi e quadrilha não estão nem aí, como diria certo político brasileiro. E o Hamas já vive mesmo à margem das leis internacionais, tanto faz.

CRIMINOSOS CONTUMAZES

“Antissemitismo!” é a palavra mágica brandida toda a vez que alguma reação se projeta contra os crimes de guerra cometidos por Israel. Faltou esta sacada aos mafiosos semitas nos Estados Unidos, no passado recente. Poderiam ter usado essa senha como tentativa de livramento da polícia americana, mas não tiveram cinismo para tal. Dentre os mafiosos da chamada “Kosher Nostra”, como Arnold Rothstein (1882/1928), Dutch Schultz (1902/1935), Meyer Lansky (1902/1983) e Bugsy Siegel (1906/1947), criminosos implacáveis que aterrorizaram Nova Iorque e cercanias durante décadas, jamais (que se saiba) tentaram se esconder da lei usando como escudo sua condição de judeus. Bibi e suas gangues associadas abusam dessa indecência.

“NADA NOS IMPEDIRÁ (DE MATAR)!”

“Autodefesa” é a outra palavra mágica repetida à exaustão pelos sionistas (e não só os de extrema-direita) para justificar seus crimes contra a humanidade. Não por coincidência o poderoso exército israelense usa a denominação de “Forças de Defesa de Israel”: as poderosas estruturas bélicas nazistas eram denominadas “Forças de Defesa da Alemanha”. Respondendo ao pedido de prisão do TPI, Bibi Netanyahu foi direto ao ponto: “Nenhuma decisão de qualquer fórum internacional ou do tribunal de Haia impedirá Israel de exercer seu direito à autodefesa contra o movimento palestino Hamas na Faixa de Gaza” – ou seja, a matança de civis continuará a todo vapor.

HAMAS, PARCEIRO INVOLUTÁRIO?

Karim Khan, escocês, o promotor do TPI que solicitou a prisão dos criminosos israelenses também pediu a prisão de Yahya Sinwar, líder do Hamas na Faixa de Gaza, Mohammed Diab Ibrahim Masri, chefe da ala militar, e Ismail Haniyeh, chefe do gabinete político. A turma do Hamas, como seria de se esperar, argui a seu favor a resistência contra o agressor sionista e, através do dirigente Sami Abu Zuhri, declarou à Agência Reuters que o pedido de detenção para os três líderes “equipara a vítima ao carrasco”. O fato é que, ao desalojar as antigas lideranças da Autoridade Palestina (que apostavam nos lentos avanços políticos) e ao jogar a resistência numa luta armada sem nenhuma possibilidade de êxito, o Hamas atua do jeito que a extrema-direita sionista sempre desejou: um inimigo “radical”, “avesso ao diálogo”, sem condições de lhe fazer frente nas armas, e que teima em fornecer justificativas para ser massacrado.

7/10/2023: A ARAPUCA

Esta temporada de carnificinas foi iniciada em 7 de outubro de 2023, quando – inexplicavelmente, insisto – militantes do Hamas furaram a inexpugnável defesa israelense e fizeram um “ataque surpresa” que matou cerca de 1.200 pessoas e capturou mais de 250 reféns no lado de Israel. Essas mortes e os reféns ainda desaparecidos são as justificativas do governo de Bibi Netanyahu para implementar – desde 8 de outubro de 2023 – o massacre ininterrupto de civis palestinos, matando até agora mais de 30 mil pessoas e ocupando a quase totalidade da área do que deveria ter sido o Estado da Palestina. Simbólicos, os pedidos de prisão solicitados pelo TPI, embora tardios, lembram ao mundo que nem todo mundo está em conivente silêncio ou apoio despudorado ao genocídio imposto aos palestinos em Gaza.