Sérgio Porto foi um genial jornalista carioca vivente entre 1923 e 1968. Morto aos 45 anos por um infarto, deixou vivo um acervo fantástico de publicações assinadas pelo pseudônimo Stanislaw Ponte Preta. Com humor inteligente e cortante sua “coluna social” no jornal Última Hora, chamada “Fofocalizando”, publicava o “Festival de Besteira que Assola o País - FEBEAPÁ”. Lá ele republicava – comentando – notícias reais sobre ocorrências ridículas da ditadura militar. A Wikipédia relembra “o caso de uma turista russa que, indo para o Uruguai, fora detida no Aeroporto do Galeão porque tinha uma protuberância estranha sob o vestido; criou-se um incidente até que se descobriu que a mulher, na verdade, tinha um defeito físico nas nádegas, que se acentuava quando andava - sobre isso, Ponte Preta publicou a nota com o seguinte título: ‘Respeitem ao Menos a Região Glútea’”. Se vivo fosse, Sérgio Porto, aos 81 anos, correria o risco de sofrer mais infartos. Sob a ótica pontepretana, vejamos umas notícias atuais.

1) PROMOTOR PEDE CONDENAÇÃO DA VÍTIMA

Lembram-se do rapaz negro que foi ameaçado de morte e perseguido pela deputada Carla Zambelli (PL/SP), ela empunhando arma de fogo, em plena luz do dia, pelas ruas de São Paulo? Pois saiu n’O Globo, em 16/05/2024: um promotor, atendendo a solicitação da agressora, entrou com pedido de condenação da vítima, que se chama Luan Araújo. Jornalista, ele ousou publicar artigo denunciando a parlamentar por ela, além da pistola, usar o episódio “como mais um espaço para fazer o picadeiro clássico de uma extrema-direita mesquinha, maldosa e que é mercadora da morte”. Pronto, feriu a moça que é defensora intransigente da Liberdade de Expressão e Opinião (como no caso do X, ex-Twitter, de Musk) e o jovem que quase levou um tiro está agora ameaçado de ser preso. Querem uma justiça à espanhola?

2) BOLSONARISTA ESTUDANDO IANOMAMIS

Folha de São Paulo, 14/05/2024, coluna “Brasília Hoje”, assinada por João Gabriel: “O presidente da Câmara, Arthur Lira (PL/AL), criou uma comissão externa para investigar a crise humanitária entre os indígenas Ianomami, em Roraima, composta apenas por deputados bolsonaristas, a começar por sua coordenadora, Coronel Fernanda (PL-MT). Dentre seus membros também estão o deputado Nicoletti (União Brasil-RR), defensor do garimpo em terras indígenas, e Silvia Waiapi (PL-AP), indígena e que foi secretária de saúde indígena do governo de Jair B (PL). A principal causa da crise humanitária do povo Ianomami é o garimpo ilegal dentro do território, que explodiu justamente durante a gestão bolsonarista”. Nem precisa acrescentar nada.

3) CRÍTICA POR EXCESSO DE ATENÇÃO

Lula, o presidente, tem sido criticado por excesso de apoio e presença no Rio Grande do Sul flagelado pelas chuvas, áreas visitadas por quatro vezes até agora, e por ter nomeado, entre seus ministros, um gaúcho para a missão de confiança de coordenar os trabalhos dos demais ministérios em ações governamentais de solidariedade aos gaúchos. Na opinião do Estadão (postagem de ontem, 17/05/2024), “Lula transformou o anúncio do auxílio federal aos gaúchos em ato de campanha e fez do tal ministério extraordinário um palanque político”. E mais: Aecinho Neves, em ardência profunda, ressuscitou seu mandato federal para dizer que era “uma excrescência” a nomeação do gaúcho Pimenta para cuidar do apoio aos gaúchos “sem consultar Eduardo Leite” (site Infomoney, em 15/05/2024). Quem manda Luiz Inácio não estar passeando de jet-ski numa chuvinha fraca dessas, e sequer exigindo que as vítimas parem de “mimimi”?