Enio Lins

As grandes enchentes e o navio gaúcho para Alagoas

Enio Lins 07 de maio de 2024
Efeitos da tromba d’água em Maceió, maio de 1949: na Avenida da Paz, a ponte do Salgadinho foi levada pela tromba d’água (ao fundo, o palacete original que mais tarde seria o Hotel Atlântico)

Relembrou o notável jurista Marcos Bernardes de Mello, em pequena crônica postada no grupo de integrantes do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, histórias que circularam amplamente em Maceió nos tempos idos. São narrações quase desaparecidas sobre a grande tragédia da tromba d’água desabada sobre a capital alagoana em maio de 1949, provocando prejuízos nunca dantes vistos nessas paragens e causando a morte de muitas pessoas, várias soterradas pelo deslizamento da barreira do Poço, mais ou menos defronte à antiga Escola Industrial (hoje IFAL, ex- Escola Técnica Federal). E a grande ponte do Salgadinho, riacho que acabara de ser “retificado” foi simplesmente engolida pelas águas.


AJUDA DO RIO GRANDE DO SUL


“Diante da tragédia lembro-me de que os gaúchos mandaram para nossos flagelados um navio carregado de doações”, escreveu Marcos Mello, sem se esquecer do folclore político: “corria na cidade que uma Comissão foi ter com o Governador Silvestre Péricles para saber a quem entregar as doações. E o encontrou no Palácio procurando alguma coisa sobre o birô coberto de papel. À pergunta de onde entregar as doações ele teria dito: ‘Só não entreguem aqui no Palácio, porque já roubaram minha tesourinha de unha’”. O fato é que esse navio gaúcho abarrotado com doações para Alagoas marcou profundamente nossa sociedade e, em boa hora, o episódio foi relembrado.


AJUDA AO RIO GRANDE DO SUL


“Mesmo que nossa pobreza não nos permita uma doação significativa, parece-me ser hora de sermos solidários com nossos irmãos do Sul, que sofrem demais, estimulando quem possa fazê-lo”, conclui Marcos Bernardes de Mello em seu texto aos membros do IHGAL. Essa é a ideia: solidariedade sempre, solidariedade efetiva (material) para uma comunidade vitimada. Mesmo que nossa memória histórica não tivesse o registro do navio gaúcho em 1949, é nossa obrigação “chegar junto” dos pampas nesse momento de dor coletiva. Não podemos esquecer dos inúmeros outros gestos de solidariedade recebidos pela população alagoana quando de nossas cheias tão recorrentes – nunca faltaram ajudas importantes vindas de fora.


AJUDA PÚBLICA E PRIVADA


Sobre o atual desastre gaúcho, é importante destacar que a tragédia comprova, positivamente, que o Brasil voltou a ter um presidente da República depois de quatro anos de acefalia moral no Palácio do Planalto. Alagoas sabe da importância da visita de um presidente da República em situações semelhantes: Fernando Henrique Cardoso visitou a região alagada em São Luiz do Quitunde no ano 2000 e Lula esteve presente nas áreas inundadas de Rio Largo em 2010, e um aspecto não é mero detalhe: nesses dois casos, os presidentes da República e os governadores alagoanos eram adversários políticos (FHC x Ronaldo Lessa e Lula x Téo Vilela) mas eram humanistas e cidadãos capazes de compreender a função de estadista como indispensável a quem quer que esteja investido do poder constituído.


COMO AJUDAR


Informa a Agência Brasil: “O governo do Rio Grande do Sul reativou a chave Pix para doações em dinheiro para ajudar as vítimas de enchentes no estado. A conta bancária nomeada como SOS Rio Grande do Sul, aberta no Banrisul, receberá os valores pelo Pix do CNPJ número 92.958.800/0001-38”. Mas, antes de mandar algo, confira e confirme os dados do destinatário, pois vivemos tempos encharcados de golpes digitais.