Enio Lins

Genocídio sem medo de reprimendas

Enio Lins 02 de fevereiro de 2024

Já ouviu falar na UNRWA? É a sigla, em inglês para United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East – em bom português: Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio. Pois essa entidade humanitária está na bica para ser detonada, liquidada, pelo sionismo.

No sábado (próximo-passado, como se escrevia), 27, o governo dos Estados Unidos, atendendo demanda israelense, lançou uma campanha para esvaziar monetariamente a entidade, cancelando seus repasses e cobrando que os países subservientes façam o mesmo. Sem grana, mata-se o trabalho de salvar vidas da UNRWA.

GENOCÍDIO GLOBALIZANTE

Diz-nos a Wikipédia: a UNRWA “é uma agência de desenvolvimento e de assistência humanitária que proporciona cuidados de saúde, serviços sociais, de educação e ajuda de emergência aos mais de 4 milhões de refugiados palestinos que vivem na Faixa de Gaza, Cisjordânia, Jordânia, Líbano e Síria”. Era – está sendo asfixiada.

É mais uma prova do objetivo genocida do governo israelense e de seus apoiadores (capitaneados pelos Estados Unidos). Impedir a assistência aos refugiados palestinos significa matar os sobreviventes do massacre em curso. Não existe “guerra ao grupo terrorista Hamas”, existe o extermínio de uma população.

EXTERMÍNIO EM MASSA

No site Outras Palavras, em entrevista ao jornalista Antonio Martins, o cientista político ítalo-brasileiro Giancarlo Summa (Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, em Paris) declarou que as forças israelenses já mataram “mais de 26 mil pessoas e deixaram 95% da população desabrigada”, e esse boicote tornará o quadro ainda mais cruel.

Denuncia Summa que “o pretexto para sufocar a UNRWA é risível. Uma matéria publicada pelo New York Times, um dia antes de começar a debandada ocidental, aventava a hipótese de 12 funcionários da agência terem auxiliado o Hamas nos ataques a judeus, em 7/10. Os supostos responsáveis nunca foram nomeados, nem apresentadas as circunstâncias em que teriam agido. As ‘informações’, nunca checadas, teriam partido de fontes israelenses”.

LICENÇA PARA MATAR

Aventa o pesquisador que um dos motivos do boicote à UNRWA seria a posição do Tribunal Penal Internacional. Não é impossível que o governo israelense tenha se sentido desautorizado na matança, mas a decisão foi tão tímida, que é difícil crer que possa ter tido tamanha repercussão entre os genocidas. As acanhadas recomendações da Corte de Haia nem falaram em cessar-fogo e apenas solicitaram “evitar acusações de genocídio”.

Quem se acostumou a ser ovacionado a cada morte de “terroristas palestinos” pode ter se abusado com o não-aplauso à política de extermínio dos nativos e expropriação total de suas terras. Seja qual tenha sido a desculpa, o fato é que o governo Biden deu mais um passo ao lado do genocida Netanyahu e suas ações terroristas.

ASSASSINANDO A MEMÓRIA

Explica Summa que “a agência foi estabelecida logo após o Nakba – a grande tragédia palestina, que expulsou de suas casas e terras 500 mil pessoas [em 1948]. Atende cerca de 6 milhões de pessoas, atua não só em Gaza e na Cisjordânia, mas também no Líbano, Síria e Jordânia. A grande maioria vive em campos de refugiados, está forçada à desocupação e não tem condições de sobrevivência por seus próprios meios”.

“Mesmo assim, Tel Aviv quer extinguir a UNRWA, pois a existência do órgão traz à lembrança, automaticamente, a ocupação sofrida pelos palestinos… Além de expulsos, precisam, sob esta lógica, ser desreconhecidos, apagados”, prossegue Giancarlo Summa, que poderia ter acrescentado: depois de perderem suas terras, suas casas, suas economias, os palestinos estão sendo mortos em massa, daí Israel querer matar a agência que atrapalha esse plano, garantindo alguma sobrevida a essa população vilipendiada. Simples assim.