Enio Lins

Estatizar o salgado prejuízo, esta é a meta da mineradora

Enio Lins 20 de dezembro de 2023

Ricardo Mota, mais influente colunista político nas Alagoas – e o mais salgado – formulou título de extrema acuidade, no @portalcadamin (Cada Minuto): “ANM, Estado de Alagoas e prefeitura de Maceió podem responder na Justiça por crime da Braskem”.

Não livra, no texto, a cara de quem tenha culpa no cartório na escalada do crime ambiental promovido pela Braskem, assim como aponta para a grande chance da CPI (no Congresso) descortinar (muitos) pontos ainda ocultos nessa tragédia.

Mota “encarca” o dedo numa questão central nesse imbróglio Braskem versus povo alagoano: a tentativa de repassar as responsabilidades da empresa (criminosa?) para outrem – de preferência penalizando o erário.

Uma tentativa de repassar o ônus dela (privado) para você (público) está sendo empurrada com sucesso, até agora, pela empresa, através do acordo em que paga R$ 1,7 bilhão para a prefeitura para que esta assuma o pepino daquela.

Geisel, Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer, Jair (presidentes); Suruagy, Guilherme, Zé Tavares, Collor, Moacir, Bulhões, Mano, Ronaldo, Téo, Renan Filho, Dantas (governadores), João Sampaio, Dilton Simões, Collor, Corintho, José Bandeira, Djalma, Guilherme, Pedro Vieira, Ronaldo, Kátia, Cícero, Rui, JHC (prefeitos) devem responder pelo crime da Salgema/Trikkem/Braskem? Afinal estiveram essas autoridades na titularidade do poder executivo (nos três níveis) desde o início das operações de mineração do sal-gema sob o solo alagoano.

Vários não mais vivem, mas esse é o samba da mineradora esperta, cujo enredo é passar sua culpa para o poder público (nos três níveis do Executivo), numa conta a ser paga pelo erário, ou seja: por mim e por você, contribuintes.

Que cada pessoa gestora, em sua área de atuação, seja chamada à responsabilidade, isto é certo se – e somente se – não transferir para entes públicos as obrigações da empresa frente ao crime ambiental cometido durante meio século.

Neste universo das atribuições de cada um, é indispensável não olvidar que a empresa (Salgema/Trikkem/Braskem) era/é a única detentora do conjunto de informações estratégicas sobre a mineração. Voltaremos a esse tema em breve.

HOJE NA HISTÓRIA


20 DE DEZEMBRO DE 1989 – Manuel Antônio Noriega, general e agente da CIA que havia se tornado ditador do Panamá, é deposto pelos Estados Unidos depois de se insurgir contra seus patrões da Casa Branca. “Operação Justa Causa” foi o nome da ação militar que desempregou o Mané panamenho sem direito à indenização pelo tempo de serviço prestado.

Noriega era o “dono” do Panamá desde 1983 e trabalhava para a CIA desde a década de 50, repassando informações confidenciais, combatendo comunistas e traficando drogas. Em 1988 explodiram as divergências entre a elite política americana e Noriega. Tribunais dos Estados Unidos jugaram o general/agente Manuel e o condenaram por “tráfico de drogas”.

No ano seguinte o exército americano invadiu o Panamá para depor e prender o sujeito, que conseguiu se evadir por algum tempo, se escondendo na representação diplomática do Vaticano. O exército americano, tendo cercado a área, botou pra tocar rock and roll, a todo volume, dia e noite. Uma desumanidade. Noriega, logicamente, não aguentou e se entregou em 3 de janeiro de 1990.

Manuel Noriega morreu, de câncer, em 2017. Estava preso no Panamá, depois de períodos em presídios nos Estados Unidos e na França.