Enio Lins

Bomfim, referência sempre viva para a política alagoana

Enio Lins 25 de outubro de 2023
Bomfim, referência sempre viva para a política alagoana
Ex-deputado federal Eduardo Bomfim morre aos 73 anos - Foto: Divulgação

Eduardo Bomfim passou definitivamente para a história na madrugada da segunda-feira, 23 de outubro, depois de quase meio século de presença destacada, marcante, na política maior de Alagoas, e com projeção nacional.

Para além dos cargos listados em todos os obituários, seja no Legislativo, seja no Executivo, deve ser destacada a importância dele como formador de gerações, estrategista político, mentor ideológico e protagonista cultural.

Desde 1972 Bomfim se esmerou em formar novos quadros. Sem paternalismos. Atento, corrigia com firmeza o que considerava equívocos, incompreensões; e, por cinco décadas, se esmerou em impulsionar lideranças.

Desde sempre foi atilado politicamente, intuindo os movimentos do futuro próximo com muita vivacidade. Pensava adiante, tecia táticas com rapidez e eficiência, como que adivinhasse resultados prováveis e improváveis.

Desde o início sua visão ideológica foi firme e centrada. Fugia a estereótipos e mantinha o senso crítico aguçado. Evitava citações dos guias geniais sem deixar de os estudar intensamente e cobrava estudos à militância.

Desde a reorganização do PCdoB em Alagoas, em 1972/1973, processo turbinado pela filiação individual da militância advinda da Ação Popular (AP), soube definir objetivos e prazos para o crescimento partidário com êxito inigualável.

Desde que alguém possa se lembrar, foi um ser da Cultura, leitor e cinéfilo voraz, admirador da poesia que não arriscava versos. Era crítico do que considerava erros no próprio campo ideológico, como as estreitezas do “realismo socialista”.

Bom humor era uma marca sua. Fazia piadas sobre si próprio e estimulava que descrevessem cenas como a que pegou, num estacionamento, um fusca semelhante ao seu e o dono – numa época sem celular – teve que ir à rádio avisar da troca.

Bomfim se destacou como ninguém na indução da retomada dos movimentos sociais em Alagoas pós-68, especialmente depois das “quedas de 1973” quando a ação repressiva desbaratou parte significativa da esquerda no Estado.

Pela orientação acurada de Eduardo Bomfim passaram a reorganização do movimento estudantil universitário (a partir de 1977) e secundarista (a partir de 1980), a estruturação da luta pelos direitos humanos e pela anistia (1979) ...

...passaram também por suas diretrizes parte da retomada do sindicalismo combativo, e a criação de entidades como a Federação das Associações de Moradores de Maceió (FAMA) e a União das Mulheres de Maceió (UMMA).

Em poucos anos, entre 1977 e 1994, sua orientação transformou o PCdoB na força hegemônica de esquerda em Alagoas, conquistando vitórias impactantes especialmente nas eleições de 1982 e 1986, consolidando alianças democráticas expressivas.

Eduardo Bomfim não foi infalível, evidentemente. Sofreu os desgastes próprios da guerra política-ideológica, sentiu fundo seus arranhões e, a partir de um determinado momento, recolheu-se, redefiniu-se como estudioso e conselheiro.

Nesta fase recente, virou oráculo prestigiado, buscado por antigas e novas lideranças que rumavam até Guaxuma, transformado em seu recanto predileto, para lhe ouvir e permutar ideias sobre as políticas locais, nacionais e internacionais.

Faltando 26 dias para comemorar seu 74º aniversário, Eduardo Bomfim Gomes Ribeiro se foi, antes da hora. Deixa um legado de grande importância para a história de Alagoas, cujos marcos esperam os devidos estudos e valorização.

Do baú das lembranças me vem o slogan criado, em 1986, pelo luminoso publicitário baiano Orlando Pacheco (in memoriam) para a campanha de Eduardo Bomfim à Constituinte: “A LUTA NÃO TEM FIM”. Luta que segue. Valeu, Bomfim!