Enio Lins

Tânia de Maya Pedrosa e sua arte luminosa e popular

Enio Lins 06 de outubro de 2023
Tânia de Maya Pedrosa e sua arte luminosa e popular
Tânia de Maya Pedrosa - Foto: Divulgação

Nesta sexta-feira, seis de outubro, uma grande exposição se anuncia como destaque dentre os mais importantes eventos das artes plásticas em Alagoas neste ano: a Mostra Tânia Pedrosa, ou “Das Lagoas ao Imaginário Popular”.

Belo título, unindo lagoas e imaginário popular. Mas prefiro escrever mostra, ou exposição, Tânia Pedrosa, por ter a convicção que o nome dessa iluminada personagem/artista vale mais que qualquer outra legenda.

Adiantando serviço: a abertura será nesta sexta, 19 horas, no “palácio de vidro” anexo ao Teatro Deodoro, e ficará em cartaz até 10 de novembro, reunindo obras da pintora e marcando a passagem de seu 90º aniversário.

Tânia de Maya Pedrosa é além da artista. É personagem, protagonista das artes alagoanas com tremenda luz própria, marcante nas últimas décadas no cenário cultural local, e alumiando para além dos limites estaduais.

Mesmo considerando que a exposição em tela é uma individual, é-se indispensável falar sobre a ligação dela com as raízes da cultura local. Tânia é uma garimpeira, responsável pela maior coleção de artes populares alagoanas.

Não é sem motivo a opção antes denominada “arte ingênua” e/ou “arte primitiva” e/ou “arte primitiva moderna” – termos de minha preferência, por considerar o vocábulo francês “naif” um tanto quanto esnobe e afetado.

Tânia é uma pintora primitiva-moderna. Pronto, ouso escrever. Se expressa numa profusão de cores e signos, símbolos, iconografias que rementem a cenários interioranos e ingênuos, universos da vivência da artista.

Ela vem da aristocracia intelectual dos Maya, passando pela vertente popular dos Pedrosa (das margens dos canais e lagoas) e com marcante passagem pelos Moreira, da Capela (usineiros com forte presença comunista).

Dessa colcha de retalhos de culturas específicas, somada a uma expressiva erudição pessoal – enfim, essa elegante senhora, mãe de Sérgio e Maurício, já na condição de avó e bisavó –, brotou como pintora prolífica.

Nas telas passaram a vicejar cenas de Atalaia, Murici e Cacimbinhas, das Lagoas Manguaba, Mundaú e seus canais, “da” Capela da Usina João de Deus, do Pilar etc., e – a partir dos anos 80 –, do continente da Ilha do Ferro.

Sua visão sobre as gentes dos vastos campos não-urbanizados, seus hábitos, crenças, danças, comidas, bebidas – é a da militância, quase devocional, típica de segmentos minoritários, mas notáveis, das elites de Alagoas.

São as obras de Tânia Pedrosa reportagens, descrições lúdicas, conscientemente ingênuas, das vidas populares de todos os tempos, em colchas de retalhos da memória pessoal, cenas recolhidas durante quase um século de vida.

Nas telas estão representações que desconsideram as normas acadêmicas da perspectiva e seus pontos de fuga, ignoram as proporções áureas, desdenham do equilíbrio formal. O que vale é o vínculo visual afetivo, lhano.

Não deixe de ver. Repetindo: a mostra fica em cartaz por mais de um mês, até 10 de novembro.