Enio Lins

Com isenção e sem comiseração, hora de fazer Justiça

Enio Lins 12 de setembro de 2023

Reportagem publicada ontem na versão digital d’O Globo, noticia e avalia o início do julgamento das pessoas envolvidas na tentativa de golpe de Estado em 8 de janeiro e responsáveis pela depredação em Brasília.

“STF inicia julgamento de ‘executores’ dos atos de 8 de janeiro, mirando recado para demais acusados. Réus denunciados por depredação dos bens públicos e tentativa de abolição do Estado de Direito terão casos analisados a partir de quarta-feira; ao todo, [a] PGR denunciou 1.341 [pessoas]” – assim inicia a matéria assinada por Mariana Muniz.

Ela poderia ter escrito que esse julgamento é o mais importante da história recente brasileira em função do objeto geral do ocorrido, ou seja, a tentativa de golpe de Estado envolvendo políticos, empresários, militares e bandidos comuns.

Como bem coloca O Globo, não se trata do julgamento de uma baderna em si. Isso é secundário, representa apenas a materialização de um aspecto, um momento específico, de uma articulação criminosa muito ampla e muito perigosa.

Indubitavelmente, o objetivo de Jair Messias e seus asseclas (civis e militares) era o golpe de Estado, a liquidação do Estado Democrático de Direito para a instalação de uma ditadura miliciana, centrada na supremacia do crime organizado.

Para essa súcia, o crime organizado – nucleado pelas estruturas milicianas – é o centro de poder, e veem os militares como massa de manobra, “culpados úteis” (lembram-se do conceito de “inocente útil”?) destinados a dar um verniz fardado.

Desde o início do desgoverno miliciano, a tentativa de aparelhamento das Forças Armadas ficou evidente. E a primeira reação veio do General Santos Cruz, que saiu atirando, e com pontaria certeira, aos 180 dias da gestão do “mito”.

Santos Cruz chefiou tropas da ONU no Congo, em 2013, comandando 23,7 mil militares de 20 países com louvor (e sem nenhum escândalo como a participação brasileira no Haiti). Escolhido Ministro de Governo, saiu em junho de 2019, indignado com o falso messias.

Em 30 de março de 2021, os comandantes do Exército, Edson Pujol, da Marinha, Ilques Barbosa, e da Aeronáutica, Antônio Carlos Moretti Bermudez, renunciaram a seus cargos por discordarem dos rumos golpistas do “imbrochável”.

Ao longo de todo ano de 2022 o falso messias expeliu fétidas declarações golpistas contra o processo eleitoral, comandando uma campanha de mentiras tentando desacreditar o sistema de voto eletrônico e sabotar a Democracia.

Nas comemorações do Sete de Setembro de 2022, sob o comando do meliante que então cingia a faixa presidencial, o Dia da Pátria virou o dia do pária, com Jair Messias vociferando contra a Democracia e atacando pessoalmente o STF.

No segundo turno da eleição presidencial, a Polícia Rodoviária Federal, comandada por um bolsominion com a cara do finado Ernst Röhm, fez o primeiro ensaio prático para o golpe, buscando impedir o voto em áreas potencialmente lulistas.

Nessa toada, o 8 de janeiro de 2023 foi o ápice de uma longa movimentação golpista, em verdade iniciada com a “milagrosa” autofacada, perpetrada em 6 de setembro de 2018 e que mudou os rumos da eleição naquele ano.

Na preparação golpista, a mitológica criatura deslocou sua vagabundagem (às custas do erário) para o Exterior, homiziando-se nos Estados Unidos para de lá, ainda como presidente da República, melhor articular a subversão e a indisciplina.

De lá, da Jairlândia instalada no condomínio de luxo Encore Resort at Reunion, Kissimmee, Flórida, o golpe passou a ser comandado a partir do penúltimo dia do desmandato do miliciano que ocupava a presidência da República.

Resumidamente, é isto que estará em julgamento a partir de amanhã: uma tentativa de golpe miliciano contra o Estado Democrático de Direito. É hora, portanto, do Brasil começar a acertar suas contas contra o golpismo que, historicamente, tem assolado o País.