Enio Lins

Os Cabús, a raiz síria, e a relevância de Aziz e Arlindo

Enio Lins 02 de setembro de 2023

Despediram-se da vida no mesmo dia dois homens que não devem ser esquecidos por Maceió, ambos de sobrenome sírio: Cabús. Um comerciante, outro professor universitário, cada um emblemático em sua área de atuação.

Aziz Abud Cabús era empresário, fundador da Casa Cláudio. Arlindo Cabús foi Engenheiro Civil e professor universitário. Aziz era também homem de letras, poeta. Arlindo, um ser dos números, brilhou igualmente como gestor dos vestibulares.

Sobre ambos, vão aqui umas linhas traçadas sobre minhas lembranças pessoais. Conheci Seu Aziz recebendo a clientela na Casa Cláudio, acho que fui lá comprar alguma cafeteira e, muito bem atendido, retornei com frequência.

Conheci o educador Arlindo Cabús, por fama, antes mesmo de entrar para a UFAL. Ele era o mais comentado professor de Alagoas por conta de seu antológico rigor, uma lenda viva, o mais “Caxias” de toda terra, diziam.

Nunca me foi estranho o sobrenome. Meu pai, Hermílio, era amigo de Seu Durval, da Casa Cabús, promontório no centro velho, sobrado triangular, cercado pelo Beco de São José e Rua Moreira Lima, com vértice na Rua do Macena.

Parece que aquele trecho da cidade era o território sírio-libanês, pois os Cabús se distribuíam ali, inclusive seu Aziz, com sua Casa Cláudio no Beco de São José, onde ainda hoje a Casa Durval segue incrustada com suas louças no antigo estilo.

Os primos Kassar estavam por perto, vizinhos na Moreira Lima (Rua 1º de Março), com a Casa São Paulo. E mais adiante, defronte ao antigo Estadual, Seu Gabriel Chalita tinha a fábrica de gelo (mais tarde, a IFRIL de Edmond Le Campion).

Ricardo Cabús, sempre camarada, esclarece que a família veio de Mardin, na época Síria, hoje Turquia, desembarcando em Recife, e de lá se deslocando para outras cidades. Aziz e Arlindo, tio e sobrinho, nasceram em Pernambuco.

As famílias de Aziz e de Arlindo escolheram Maceió como pouso e daqui não mais arribaram, aqui plantaram a descendência e se transformaram, ambos, em referências para seus ramos de trabalho, no empreendedorismo e na academia.

Seu Aziz, polido e fleumático como um britânico, era poeta de matiz tradicional, de rima rica, métrica calibrada. Caso percebesse alguma sensibilidade num coração que aparecesse em busca utensílios para o lar, botava as letras na panela.

Arlindo Cabús era igualmente educado, comedido. Mas rigorosíssimo em suas lições sobre cálculos e demais contas das Engenharias. Quem não estudasse, não tinha chance. Suas provas eram temidas, faziam tremer gregos e troianas.

Ana Cláudia (mãe de uma neta de Seu Aziz) me informa que Seu Aziz e Dona Nelma tiveram seis filhos: Cláudio, Carlos, Renato, João, Alberto e Gustavo. Professor Cabús e Dona Réa Sílvia tiveram três: Ricardo, Cristina e Henrique.

Fui cliente de seu Aziz, sempre atencioso a explicar a função e qualidade de cada produto que sua loja oferecia. A derradeira vez que conversei mais longamente com ele, ainda a Casa Cláudio estava em pleno funcionamento.

Não fui aluno do Professor Cabús, mas como ativista, convivi com ele no antigo CETC da UFAL e participei de manifestações estudantis da Engenharia contra seu rigor. Sempre sereno e educado, ouvia os protestos mais aguerridos sem se abalar.

Entraram para a história, ambos, no dia 28 de agosto de 2023. A missa do sétimo dia, dedicada aos dois, será rezada na capela do Colégio Santíssimo Sacramento, às 19:30 do dia 4 de setembro, segunda-feira.

Ao Seu Aziz Cabús meu agradecimento pela atenção que recebi durante tantos anos e minhas desculpas por não ter insistido na publicação de seu livro de poemas e crônicas.

Ao Professor Arlindo Cabús, meu tributo por seu papel como educador e minhas desculpas por não ter lhe pedido desculpas por minhas incompreensões dos tempos estudantis.