Enio Lins

Um documentário com cara de filme de ficção

Enio Lins 08 de agosto de 2023

Nesta terça-feira, às 19:30, no Teatro Deodoro, conforme noticiado por essa Tribuna, será lançado o documentário “O Impeachment – setembro 1957, sexta-feira, 13”, derradeiro filme dirigido pelo grande Pedro da Rocha.

Episódio sem precedentes, apesar de previsível à época, pipocou numa sexta-feira, 13 de setembro de 1957, quando o plenário da Assembleia Legislativa de Alagoas se converteu, em profusão de balas, num teatro de guerra.

Pois agora virou filme a tragédia abordada pelos livros “Tragédia do Populismo” e “Metamorfose das Oligarquias”, de Douglas Apratto, “A Solidão dos Espaços Políticos”, de Luiz Nogueira, e “Sexta-feira, 13”, de Humberto Gomes de Barros.

Em seu tempo, o acontecimento foi destaque em toda mídia nacional e ganhou páginas no exterior. Com razão, pois coisa assim nunca foi vista (nem antes, nem depois) e um morto e vários feridos é resultado ameno face aos milhares de tiros disparados.

Destaque também é o processo de impeachment em si, pois se algum antes ocorreu no dito mundo ocidental não foi notado até então. Apenas em 1974, outro processo de impedimento chamou a atenção do mundo: Nixon, presidente americano.

Em 1992, mais um impedimento, também com vínculos alagoanos, sacudia o País: o do presidente Fernando Collor. Dilma Rousseff, em 2016, garantiu o topo desse ranking para o Brasil – no mundo, nenhuma nação tem tanto impeachment.

Por tudo isso, e mais os milhares de projéteis zunindo no dia 13 de setembro de 1957, o impeachment de Muniz Falcão é foco permanente para estudos, artigos de todos os níveis, livros, e agora é produto da sétima arte.

Pedro da Rocha, um dos mais profícuos cineastas alagoanos, de carreira prematuramente encerrada pelo Covid-19, em setembro de 2021, aos 64 anos, teve nesse mote seu derradeiro trabalho e, ao partir, deixou esse filme praticamente pronto.

Léo Villanova, seu parceiro na ideia, e Vera Rocha (viúva de Pedro e companheira nas produções dele) tocaram o projeto adiante, concluindo as etapas faltantes e – finalmente – o documentário será lançado hoje, no Teatro Deodoro.

Pedro encarou com especial atenção esse trabalho – ponto alto de sua jornada cinematográfica, com foco em documentários sobre a cultura popular, onde se destacam “O santo guerreiro do povo” e “Memórias de uma saga caeté”.

Contando com depoimentos inéditos, como o de Dona Alba Mendes, viúva de Muniz, e Roberto Mendes, traz a última entrevista concedida por Alcides Falcão, além de falas de pesquisadores como Douglas Apratto Tenório.

Fotografias, cujos originais eram inéditos, várias resguardadas cuidadosamente por Edwaldo de Meira Barbosa (in memoriam), ex-diretor-geral da Assembleia Legislativa, marcam presença na produção e contextualizam as cenas da tragédia.

Sem medo de errar, pode-se dizer que este filme-reportagem de Pedro da Rocha abre as portas para novas produções sobre o tema, evento histórico tão rico que pode ser explorado tal qual inesgotável veio de ouro. Basta ter coragem de descer à mina.

Aplausos, em memória, para o saudoso Pedro da Rocha!! Aplausos para Vera Rocha, Léo Villanova e toda equipe!!