Enio Lins

Na penumbra, um espectro emerge da cova da direita

Enio Lins 03 de agosto de 2023

Nos idos de 1981, um relatório cínico e ostensivamente mentiroso expôs à desmoralização parte do comando do exército brasileiro: foi o “Relatório Coronel Job Sant’Ana” sobre o atentado terrorista/militar (frustrado) no RioCentro.

Para quem não se lembra do escândalo, vai um resumo básico: em 1981, a edição carioca da festa pelo Dia do Trabalho estava sendo realizada na véspera do feriado, no RioCentro, e militares do exército tentaram colocar bombas no evento.

Mas uma dessas granadas explodiu no colo de um dos terroristas, o sargento Guilherme do Rosário, matando-o e ferindo gravemente seu cúmplice, o capitão Wilson Dias Machado. Outras bombas foram apressadamente retiradas depois do desastre.

Frente a tamanho escândalo, parte dos militares em posição de comando tentou montar uma farsa para proteger os dois terroristas e a si próprios (por óbvio envolvimento), numa sequência circense de trapalhadas.

Wikipédia: “No dia seguinte às explosões, o general Gentil Marcondes Filho, comandante do I Exército, determinou que o enterro do sargento fosse realizado com honras militares e, em um episódio incomum, fez questão de carregar uma alça do caixão”.

Parte das Forças Armadas se recusou a coonestar essa armação. O coronel Prado Ribeiro foi afastado por tentar levar a sério a investigação. Enfim, o tal Job aceitou a canga e conduziu um IPM hilário, concluindo que a dupla era vítima de “terroristas de esquerda”.]

Golbery do Couto e Silva, o general tido como o maior estrategista da direita brasileira, então ministro-chefe da Casa Civil, pediu demissão do posto por discordar dos rumos da palhaçada criminosa. O governo do general Figueiredo, lentamente, definhou.

Como disse Reinaldo Azevedo, apareceu um canhestro “inquérito militar”, de tom bolsonarista, sobre o 8 de janeiro de 2023, que é um novo “Relatório Job”. Repetindo-se como farsa da farsa, novamente querendo transformar criminosos em vítimas.

Apesar da parcela majoritária das forças armadas ter recusado o golpismo bolsonarista, existe uma banda necrosada que insiste em desmoralizar-se como instituição, persiste em abusar do poder, atentar contra a inteligência e a desrespeitar a Democracia.

HOJE NA HISTÓRIA


3 de agosto de 1645 – Ocorre a Batalha do Monte das Tabocas, travada entre a tropa da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais e uma milícia organizada por senhores de engenho pernambucanos, que ganharam a parada.

Com o fim da União Ibérica, em 1640, e a retomada da coroa portuguesa pelos portugueses, encerrando 80 anos de usurpação espanhola, a paz foi estabelecida com a Holanda (inimigos da Espanha). Nesse meio tempo os senhores de engenho nordestinos haviam acumulado dívidas com os holandeses, numa fortuna equivalente a 100 toneladas de ouro.

Com a paz, o grosso das tropas holandesas deixou o Nordeste, ficando apenas um pequeno grupo armado para proteger as empresas batavas que mantinham seus escritórios concentrados em Recife. Aproveitando essa oportunidade, os ricaços nordestinos inflaram suas milícias com escravos e índios (até então discriminados por eles) e botaram pra quebrar nos credores para não pagar o que deviam. É a “insurreição pernambucana” que desemboca na famosa Batalha de Guararapes. Ganhar a briga em Tabocas foi o passo decisivo para a vitória final dos caloteiros, que sacramentaram o xexo (seixo). Mais tarde, Portugal pagou (com o ouro brasileiro) essa pesada conta para evitar nova invasão holandesa.

Leia mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_do_Monte_das_Tabocas