Enio Lins

Um herói da história dos oprimidos e da democracia

Enio Lins 12 de maio de 2023

Ofuscada pela despedida da magnífica Rita Lee, a morte também levou o ex-deputado carioca David Miranda, aos 37 anos. Assim como a grande roqueira, a vida desse combativo militante, ex-favelado, merece destaque e respeito.

Órfão de mãe e sem saber quem foi o pai, David foi acolhido pela tia, tão pobre quanto e já com quatro filhos para criar. Cresceu na favela carioca do Jacarezinho, como outras milhões de crianças pobres, pretas, pardas, sobreviventes nas periferias.

Aos 15 anos, saiu de casa para tentar viver por conta própria. Foi faxineiro, office-boy, despachante, gerente de lotérica – informa O Globo. Conheceu o jornalista americano Gleen Greenwald aos 19 anos, passaram a viver juntos, e casaram-se em 2006.

Ativista político, Davi representava as populações faveladas e as causas LGBTQI+, e foi o primeiro vereador assumido como gay masculino a ser eleito para a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, em dupla com Marielle Franco, ambos do PSOL.

Parceiro da luta pela liberdade de imprensa, colaborando com as grandes reportagens escritas por Glenn, Davi chegou a ser preso em Londres quando transportava documentos considerados secretos e constrangedores para as grandes potências.

Suplente de Deputado Federal nas eleições de 2018, assumiu a vaga do eleito Jean Wyllys quando este desistiu do mandato para se exilar voluntariamente no exterior por conta dos atritos com o clã bolsonarista quando o mito foi eleito presidente.

Em 2019, David Miranda foi escolhido pela revista americana Time como um dos dez líderes da próxima geração, reconhecimento internacional que o elevou à categoria de influenciador mundial de fato, com grande futuro.

Mas uma grave infecção gastrointestinal o fez renunciar a candidatura à reeleição em 2022, sendo hospitalizado em agosto do ano passado. Depois de nove meses de UTI, Davi se foi, entrou para a história – com louvor, e não merece ser esquecido.

David Miranda e Gleen Greenwald tinham três filhos, dois deles adotados em Alagoas, crianças resgatadas à miséria mais abjeta e que, graças a esse ato amoroso simples e nem sempre fácil, ganharam nova perspectiva de vida.

HOJE NA HISTÓRIA

Padre Fernandez é detido depois de atentar contra a vida do Papa João Paulo II


12 de maio de 1982 – Juan Maria Fernandez y Krohn, padre ultradireitista, tenta assassinar o Papa João Paulo II durante uma visita ao Santuário de Fátima, em Portugal. A visita do Sumo Pontífice era para agradecer por ter escapado com vida do atentado sofrido, um ano antes, pelo turco Mehmet Ali Agca.

Gritando “Abaixo o Papa! Abaixo o Concílio Vaticano II” o religioso atacou João Paulo II com uma baioneta militar, do tipo usada em fuzil Mauser, arma que havia escondido na própria batina. Teria atingido o alvo, pois a imprensa relatou que sangue foi visto no chão depois do ataque. Mas o Papa e a Santa Sé fizeram silêncio sobre o ferimento que, aparentemente, não teria causado danos significativos à saúde de Karol Józef Wojtyla.

Perdoado, no ato, pelo Papa, mas evidentemente preso em flagrante pela polícia portuguesa, Fernandez y Krohn foi processado e julgado por tentativa de homicídio, condenado a sete anos de cadeia. Pagou a pena e desligou-se da batina, mas nunca se arrependeu do atentado.

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