Enio Lins

Rita Lee não morreu, cantando encantou-se

Enio Lins 11 de maio de 2023

Rita Lee saiu da vida para continuar na história, pois dela já fazia parte desde mocinha. Mocinha bem malcomportada para os padrões de sempre, desde os agitados anos 60, quando botou a cara e a boca no mundo.

Rita Lee era a tradução mais completa da trilogia profana do movimento hippie: Sexo, Drogas e Rock’n’roll, se destacando inicialmente noutra tríade, a que formava com dois garotos, um deles seu marido, naquele tempo. Lee era a tal. Foram Os Mutantes.

Aí pela virada da década de 60 para 70, no século passado, ganhei um disco dos Mutantes numa disputa escolar no Colégio Élio Lemos, certame organizado pelo professor José Maria Tenório, intelectual que tentava semear algum espírito crítico na garotada.

Na virada dos anos 60 para 70 eu não tinha toca-discos em casa. Ganhei e guardei o bolachão com carinho até ele sumir. Nesse meio-tempo ouvi o LP uma vez na casa de alguém que tinha radiola, depois guardei novamente. Mas só me lembro da Lee no disco.

Naquele tempo era tempo da ditadura e Rita comeu o pão que os milicos amassaram, foi detida, censurada, perseguida – mas sua iconoclastia e seu inconformismo nunca foram varridos para baixo do tapete, ela era ela sem maquiagem, sempre.

Em sua carreira solo, mutatis mutandis (mudando o que tem de ser mudado), desfeito o trio (a banda) e o duo (o casamento), Rita se transformou em algo mais que a maior roqueira do Brasil, virou um símbolo de rebeldia sem perder o humor jamais.

Há dois dias a mídia está repleta de retrospectivas e avaliações sobre a vida e obra de Rita Lee. É justo. Injusto será – se acontecer – o certo esquecimento que marca os primeiros tempos pós-despedida, mas é certo que ela jamais sumirá, nunca será arquivada.

Enquanto toco Rita Lee no aplicativo, direto como cantiga de grilo, procuro o LP Os Mutantes nos sites: em torno de R$ 400,00 (em endereços sem garantia de qualidade) e me lembro que, novamente, não tenho toca-discos em casa. Fico na plataforma digital.

A contemporaneidade digital é outra coisa mesmo. Rita Lee não morreu. Na nuvem ela segue imortal, eterna e provocativa, incansável nas plataformas de streaming e nas rádios, e/ou nos toca-discos retrôs. Resumindo: Viva Rita Lee!

HOJE NA HISTÓRIA


11 de maio de 868 – É considerada a data da primeira impressão em série de um livro, no caso a “Sutra do Diamante”, texto tido como um dos mais importantes do Zen-Budismo chinês.

Impresso sobre um rolo de pergaminho, não possui páginas separadas, mas é considerado como livro impresso por ter sido reproduzido em cópias idênticas não-manuscritas. O método usado foi a xilogravura (matriz escavada em placa de madeira), para tipos e ilustrações.

Foi localizado em 1907 por um arqueólogo ocidental, Marc Stein, num local conhecido como “Caverna dos mil budas”, em Dunhuang, área no nordeste da China. Na Biblioteca Britânica existe uma cópia desse pergaminho ancestral dos modernos livros.

Essa técnica de reprodução em série só viria a ser praticada no Ocidente 587 anos depois da impressão da Sutra do Diamante, quando Gutenberg produziu, usando tipos móveis, a Bíblia de Mogúncia, em 1455, com ilustrações pintadas à mão.