Enio Lins

Curso de pistolagem mirim cancelado em Goiás

Enio Lins 19 de abril de 2023

Alardeado e depois cancelado (por ação do MP), um curso de tiro para crianças, oferecido em Goiás, expõe o irresponsável afã armamentista que varre o Brasil desde que um presidente achou justo jair incentivando a belicosidade irrestrita.

Não é a questão central ensinar jovens a usar armas, especialmente sendo do tipo air soft, mas o importante a ser observado, e combatido, é o clima da moda: a idolatria à arma e ao suposto direito do “homem de bem” mandar bala em quem achar “do mal”.

Num momento em que sociopatas que se consideram “homens de bem” resolvem matar crianças (por considerá-las “do mal”) em escolas, copiando uma sociopatia desgraçadamente comum nos Estados Unidos, esse curso se apresentou como psicopatia pura.

A ampla divulgação feita em torno do “curso de tiro para crianças” causou mais mal pela difusão da ideia que o famigerado evento em si, posto – em momentos de sociopatias – o clima provocado ser essencial para o cometimento de novos crimes.

Desde 2018, ainda na campanha eleitoral, a vinculação de armas com menores apareceu com força graças a repetidos gestos de então candidato marginal de forçar crianças de colo a fazer “arminhas” com os dedinhos. Uma tara explícita.

Esse vírus armamentista virou um patógeno que contaminou rapidamente boa parte do país, resultando numa multiplicação dos tais “Clubes de Tiro”, alcançando uma velocidade média de um novo clube por dia, incessantemente, durante quatro anos.

Foram 1.483 novos clubes de tiro abertos nos 1.460 dias de desgoverno miliciano, segundo registros do Exército brasileiro. Uma febre avassaladora que só um psicopata poderia entender como “grande realização de governo”. E ele entendeu assim, vibrou.

Nos quatro anos de poder bolsonarista, 695.721 pessoas foram autorizadas a ter amas, o que quer dizer que, entre 2019 e 2022, foram aprovados 872 novos cadastros por dia(!). É um país se preparando para uma carnificina, sim – mas deixem as crianças de fora.

HOJE NA HISTÓRIA


19 de abril de 1506 – Massacre dos judeus de Lisboa, resultando em mais de quatro mil assassinatos, segundo Garcia de Resende (intelectual, poeta e cronista da época)

Com sua população muito ampliada em Portugal depois da expulsão em massa sofrida na Espanha em 1492, a comunidade judaica passou a ser mais discriminada em Lisboa. Sempre acusados de Deicídio, os judeus sofriam retaliações pela capacidade de sobreviver relativamente bem em suas comunidades fechadas (se ajudavam mutuamente) e pelo tradicional alto desempenho nos negócios.

O massacre de 1506 teve início quando um cristão-novo (judeu convertido ao cristianismo) tentou explicar que uma suposta projeção do rosto de Jesus era, na verdade, um reflexo da luz no ambiente. Foi morto à pancada dentro da igreja do Convento de São Domingos, onde tinha ido assistir à missa. Registrou-se que frades dominicanos incitaram mais a multidão, que entrou em fúria, perseguindo e matando os “hereges”, num caos que durou três dias, até a intervenção das tropas do rei Dom Manuel, que conseguiram conter os ensandecidos depois de 72 horas de morticínio.

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