Enio Lins

Lição de casa: distinguir adversários de inimigos políticos

Enio Lins 24 de março de 2023

Lula, em sua passagem por Pernambuco, na quarta-feira, deu mais algumas lições de civilidade e de respeito político, ao acolher e ser acolhido por Raquel Lira, governadora do estado e liderança que derrotou, na recente eleição, duas candidaturas simpáticas ao PT.

Em público, ao fazer seu discurso, Lula criticou a militância (parte dela petista) que vaiava a governadora Raquel Lira: “Nós precisamos compreender e conviver até com adversários. O que a gente não pode é aprender a conviver com inimigo”.

Seguiu Lula: “a governadora pode ser nossa adversária política, mas ela é governadora do estado, ela foi eleita e eu vou respeitá-la como governadora do estado”. Que diferença! O energúmeno destratava governantes que não lhes fossem subservientes.

Essa demonstração de respeito mútuo entre lideranças adversárias é algo além das formalidades da diplomacia política, é uma necessidade civilizatória, um marco evolutivo democrático que precisa ser valorizado e multiplicado.

Nos últimos quatro anos a gestão bandoleira do mito apostou na hostilidade geral aos governos estaduais, no fundo, com tentativa de centralização do poder, tentando acuar as demais instâncias do Poder Executivo e detonar o conceito federativo.

Indo além das palavras, Lula assinou com Raquel um importante acordo sobre a administração do arquipélago de Fernando de Noronha, um dos alvos da picaretagem do ex-presidente miliciano que fez tudo para tomar conta das ilhas.

E para que o vagabundo (hoje em Orlando) queria sequestrar Fernando de Noronha para sua alçada? Para cancelar os protocolos de proteção ambiental do arquipélago, entregando aquele pedaço de paraíso da vida silvestre para o turismo predatório.

Esses protocolos ambientais foram reafirmados hoje num acordo que envolve o Governo Federal e o Governo do Estado de Pernambuco, com o testemunho do Supremo Tribunal Federal (que apreciou às demandas sobre Fernando de Noronha).

Já era a pretensão de Jair, o mentecapto, de devolver Fernando de Noronha à condição de “território federal”, anomalia que faz a alegria dos golpistas de 1964 (e autoritários de todos os tempos) ao criar bolsões excludentes das normas eleitorais vigentes.

No balanço do dia 22 de março, dois gols de placa do craque Luiz Inácio da Silva, o que reforça a esperança de que o Brasil possa avançar institucionalmente na reconstrução das relações democráticas entre os entes federados e os poderes constituídos.

HOJE NA HISTÓRIA


24 de março de 1976
– Militares dão um golpe de Estado na Argentina, depondo a presidenta Isabelita Perón e destituindo o legislativo e o judiciário. Assume todos os poderes uma junta golpista formada pelos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica.

Os militares golpistas ficaram sete anos no poder, barbarizando adoidadamente, a ponto do número de mortos e desaparecidos nunca ter sido totalizado com precisão, variando de nove mil a 30 mil vítimas fatais.

O excesso de violências e corrupção generalizada deteriorou rapidamente o poder da ditadura, e, em abril de 1982, os golpistas tentaram uma patriotada, invadindo as ilhas Falklands, chamadas de “Malvinas” pelos latinos. A Grã-Bretanha, que administra esse arquipélago desde 1833, reagiu rapidamente e derrotou as forças armadas argentinas em apenas dois meses de confronto.

A humilhante rendição e prisão de 11 mil soldados da Argentina pelos britânicos foram mais demolidoras que os 649 milicos argentinos mortos em combate. Desmoralizados, os generais tiveram que apressar sua saída do poder, o que acontece em dezembro de 1983, com o retorno da Democracia.