Enio Lins

Golpismo e cinismo são traços do bolsonarismo

Enio Lins 28 de fevereiro de 2023

Característica da aristocracia brasileira há séculos, o golpe é alma imortal da elite local desde os primeiros genocídios contra as populações originárias, crime conta a humanidade varrido para baixo do tapete colonial, assim como a pulada de cerca do Tratado de Tordesilhas.

Destaque nesse caminhar
golpista está na única independência nacional que manteve a mesmíssima família no poder do país ex-colonizador e do país ex-colonizado. Por sua vez, a “áurea” supressão da escravatura sem compensações materiais à população cativa é outra jabuticaba (diferente, inclusive, dos Estados Unidos, onde uma indenização mínima foi liberada para ex-escravos); e o fim da monarquia dos Pedros não foi tão diferente...

Mas, ao longo
dessa história de camas-de-gato, sempre se procurou uma desculpa, uma explicação que encaixasse a quebra das regras estabelecidas (ou sua tentativa, no caso de insucesso) em algum figurino ético que vestisse uma justificativa qualquer.

Isso mudou com o bolsonarismo
, com o cinismo próprio da mitológica criatura. O golpismo, a vagabundagem, a vigarice, a corrupção, todas as modalidades de preconceito e atitudes criminosas são assumidas na cara de pau, com a canalhice típica do capitão-fujão replicada como “autenticidade”.

Ser bolsonarista é ser
“pessoa do bem” autorizada a fazer o mal. Bolsonaristas podem tentar golpes de estado, podem destruir o patrimônio público, podem invadir festas de aniversário e matar o aniversariante, podem trucidar toda a torcida adversária por perder um jogo de sinuca, podem matar o pai de criança que buzine alto, podem – de armas em punho – perseguir pessoas nas ruas, podem fazer rachadinhas no salário alheio, podem praticar o genocídio contra tribos inteiras... podem tudo, afinal são “patriotas” e “do bem”.

Ser bolsonarista
é a licença poética para praticar crimes, esse é o entendimento. A defesa de que o “golpe é um direito” é pérola mais recente desse raciocínio, expelida por um molusco deputado dito evangélico, numa entrevista à Folha de São Paulo. Em cima do lance, o jornalista Reinaldo Azevedo alertou para que “o exercício da fé não se misture com golpismo, obscurantismo e misoginia” e denunciou o culto à “bezerros de ouro”.

Jair, o falso messias
, é o bezerro de ouro do momento, ídolo para o gado acrítico, boiada que muge em uníssono, seguindo o mito e um tipo de “pastores” chifrudos e de cascos fendidos. Um perigo que segue ameaçando o Brasil.

HOJE NA HISTÓRIA


28 de fevereiro de 1897 –A rainha Ranavalona III passa a ser cativa da França, que decreta nesse dia o fim da independência de Madagascar, imensa ilha africana.

Madagascar se torna colônia francesa e a família real nativa, composta a partir daí por apenas três mulheres (Ranavalona III, sua irmã Rasendranoro, e sua sobrinha Razafiandriamanitra), se torna prisioneira, de fato, do governo francês. Mantidas em detenção confortável, viverão o resto de suas vidas no exílio.

Os demais membros do governo malgaxe são afastados, ou detidos, e os mais importantes, como o primeiro-ministro Rainilaiarivoni (também marido, no papel, da rainha), exilados na colônia francesa da Argélia.

A deposição da secular monarquia malgaxe e a ocupação francesa da ilha de Madagascar foi mais um movimento da invasão e colonização europeia do continente africano.

Depois da morte – em Paris, 1948 – de Marie-Louise Razafinkeriefo, definitivamente acabou a monarquia malgaxe. Ranavalona III morreu em1917, como exilada. Marie-Louise, sem filhos, era filha da princesa Razafiandriamanitra (morta no parto, aos 14 anos) e de um soldado francês desconhecido. Como a rainha deposta, e sua tia, não tinha filhos, adotou-a em 1897.

Leia mais em https://pt.wikipedia.org/wiki/Ranavalona_III