Enio Lins

As livrarias estão mesmo indo para a cova?

Enio Lins 15 de fevereiro de 2023

Símbolos da cultura em todos os lugares ditos civilizados, as livrarias estão em crise. Fenômeno tristíssimo para gerações que cresceram aprendendo a circular entre os corredores de estantes, a se deliciar com capas e lombadas, a folhear as obras.

Um dos baques mais sentidos por amantes de livros em todo país, é o fechamento da Livraria Cultura, em São Paulo. Era aquele monumental espaço, encravado no emblemático Conjunto Nacional, um ícone brasileiro e não somente algo paulistano.

Com acessos principais na Avenida Paulista e na Rua Augusta, o Conjunto Nacional é, por sua vez, um ícone próprio da capital paulista, retratado até em quadrinhos, na obra desenhada por Paulo Caruso, em que seus traços passeiam e apresentam a metrópole.

Apois, ali, no miolo do Conjunto Nacional, fulgurava a Livraria Cultura com suas torres livreiras como que subindo aos céus no imenso pé-direito. Eram andares de livros, e mais coisas do saber, como filmes, jogos, equipamentos de informática, papelaria...

Acabou. Faliu com uma dívida poderosa (menos que a da Americanas, lógico) como se no livro-caixa só houvesse a coluna “dívida” e a coluna “haver” desaparecido. Foi-se embora a derradeira das grandes livrarias do tipo referência nacional.

Há algum tempo atrás havia naufragado a FNAC. O grupo francês foi o arrematador do também fantástico Shopping Cultural Ática, o pioneiro a espalhar elegante e provocativamente toneladas de livros e produtos culturais de todo tipo por sete pavimentos.

Por sua vez, a FNAC foi adquirida pela Livraria Cultura em 2017, mas fechou no ano seguinte. Das chamadas megalivrarias brasileiras, ou das reconhecidas como tal, só havia restado essa unidade que está encerrando suas atividades nesses dias de fevereiro.

Não é fenômeno paulista, repito. É um drama brasileiro e, certamente, global. Mas que afeta mais países como o nosso, onde o analfabetismo foi chaga aberta durante séculos e uma grave aversão à leitura segue marcando boa parte da população.

Em Alagoas não é diferente o quadro, resistindo apenas as livrarias dos Shoppings, ainda vistosas – e que assim permaneçam – mas, infelizmente, distantes do mundo editorial e cultural local; suas estantes, salvo exceção rara, não expõem obras alagoanas.

Foi-se o tempo da Caetés, foco de cultura no Centro de Maceió, por sua vez cria da afamada recifense Livro 7. Foram-se várias outras tentativas por aqui (falando apenas nos tempos recentes). Não suportaram a foice digital, somada (insisto!) à aversão ao livro.

Fica a saudade? Esperemos que não. E que, tal qual os discos de vinil e suas geringonças tocadoras, voltem ao cenário de uma forma ou de outra, nem que sejam como “vintages”. Enquanto isso, restam os sebos – afinal, os alfarrábios são eternos.

HOJE NA HISTÓRIA


15 de fevereiro de 1989 –
A União Soviética conclui sua retirada do Afeganistão, depois de dez anos de guerra contra as tropas dos “Mujahidins”, numa derrota militar e política que, em seguida, contribuiria para o fim da URSS.

Em1979, a URSS interviu no conflito interno afegão para tentar barrar o crescimento dos movimentos islâmicos fundamentalistas. Moscou procurava manter no poder em Cabul um governo aliado laico (mulçumano) em meio a uma luta interna fraticida que praticamente destruiu o partido pró-soviético até então dirigente do país, e que enfrentava uma crescente oposição armada dos grupos religiosos radicais e defensores da guerra santa.

Com a invasão soviética, a situação se complicou, pois aumentou sobremaneira o investimento das potências adversárias nos Mujahidins (dinheiro, armamento e treinamento) coordenado pelos Estados Unidos. Grupos islâmicos radicais migraram para lutar contra os russos e os afegãos laicos. Um dos principais líderes guerrilheiros treinados e financiados pelos americanos era o milionário saudita Osama Bin Laden, cujo grupo, Al Qaeda, cresceu e se fortaleceu na batalha contra os soviéticos no Afeganistão.

Com a derrota das tropas soviéticas, os grupos radicais assumiram o poder total, moldando um sistema de governo fundamentalista e belicoso. Osama Bin Laden, comandando sua facção Al Qaeda, partiu então para combater seu próprio financiador, os Estados Unidos, e ficaria mundialmente conhecido por uma série de atentados cometidos antes do 11 de setembro de 2001, dia em que o terror fez o mundo tremer.

Pois é, o poder de Osama Bin Laden começou mesmo em 15 de fevereiro de 1989.

Leia mais em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/guerra-afeganistao.htm, https://www.historiadomundo.com.br/idade-contemporanea/guerra-do-afeganistao-de-1979.htm