Enio Lins

Se foi o grande intelectual alagoano: Sávio presente!!!

Enio Lins 11 de fevereiro de 2023

Estava com a coluna pronta, editada. Cancelei, troquei o tema. Embora a partida de Luiz Sávio de Almeida mereça texto melhor, maior, mais apropriado – com certeza mais gente, mais capaz vai escrever sobre – aqui vão essas minhas linhas tronchas.

Primeiras linhas, pois sei que posso e devo escrever melhor, mais e mais apropriadamente sobre Sávio, mas a hora é essa. Acabei de receber, de Bruno César Cavalcante a triste notícia: cessou a luta do grande Sávio pela vida.

Que perda! Todo mundo sabe que a vida é finita, mas sempre sonhamos em dar um drible na inexorabilidade da morte. Ela chega e ponto. Felizmente, algumas pessoas iluminadas vivem para sempre nos corações e mentes de muita gente. Sávio é um desses seres eternos.

Uma das marcas mais caras do Sávio foi sua capacidade, seu esforço, seu objetivo de formar quadros intelectuais. Ele não esperava ser procurado, ele procurava. Caçava mentes generosas e capazes, além de uma tese, e se empenhava na formação de quem apostava.

Não era um trabalho limitado à conquista de um diploma de graduação ou de algum nível de pós. Sávio investia em inteligências, em profissionais do pensar, do pesquisar, do criar. Era um mestre – na concepção mais ampla desta palavra.

E que produção! Segundo Mônica Carvalho, sua filha, ele, já na reta final, dizia que queria tempo de vida para terminar cinco livros. Apenas cinco, pois suas gavetas sempre viveram recheadas de obras inéditas a espera de sua própria liberação.

Sávio produziu em todos os campos intelectuais: História, Sociologia, Antropologia, Economia, Etnografia. Escreveu romances, peças de teatro (memoráveis, como “Comeram Dom Pero Fernandes Sardinha”, “Estrela Radiosa” e “A Farinhada”) e até musical.

Sávio produziu obras de excepcional qualidade em todas essas áreas, tantas que nem cabe aqui listar. Melhor, aqui e agora, incentivar à família e às parcerias intelectuais dele para que esses trabalhos inéditos venham à luz.

Me honra ter feito uma coisa ou outra com ele, mas lamento muito as muitas missões que conversamos para fazer e nunca fiz. Até hoje. Agora, como tributo, vou revirar os rascunhos e localizar o que ainda posso fazer em parceria com o mestre.

Projetos? Tinha a quadrinização de uma das obras dele, à escolha dele. Deixamos para ver depois qual e como. Tinha de conversar com ele sobre as raízes indígenas e africanas de Alagoas, para rematar as conversas com Amaro Hélio e Bruno César.

Não mais. Nem a sopa da Mirian sempre prometida por ele para ajudar na conversa, nem as conversas no banco do calçadão da ponta verde. E tinha uma ideia que ele disse que depois queria conversar comigo, e fomos deixando para outro dia.

Ao mestre, com carinho e admiração, firmo o compromisso de contribuir, enquanto vivo for, para que seu nome e sua obra se mantenham vivas e se bulindo, como ideias, como ideais. Valeu Mestre Sávio! Obrigado por tudo!

Sávio de Almeida, em foto de Ailton Cruz sob filtro deste colunista