Enio Lins

O Brasil de volta para o mundo

Enio Lins 17 de janeiro de 2023

Haddad, ministro da Fazenda, desembarcou ontem em Davos, na Suíça, para reunião do mais famoso fórum econômico internacional. Ao longo dos últimos quatro anos o Brasil foi vítima de uma representação medíocre nesse cenário.

Em verdade
, o Brasil deixou de ter ministro nessa área entre 2019 e 2022, apesar de um ministério pomposamente chamado “da Economia”, pois seu titular durante esse quadriênio desperdiçado, o famigerado Paulo Guedes, nunca se postou como tal. Mero especulador na bolsa, sempre passou muito distante de planos e estratégias econômicas reais. Aparecia na neve suíça para falar mentiras desconexas, como bem disse a revista IstoÉ Dinheiro, em 27 de maio de 2022: “Paulo Guedes narra em Davos um país inexistente”.

Agora o Brasil
volta a existir na área econômica. Pode dar certo, pode errar, mas tem pessoa responsável por essa missão. A partir deste janeiro, o Brasil volta a ter a atenção devida em Davos. E Haddad chegou antecipando três pontos de sua pauta, coerente com as altas expectativas do mundo para o terceiro mandato Lula.

Em sua primeira
entrevista, ontem, Haddad destacou que trazia “três mensagens do Brasil” para as áreas de interesse estratégico global sobre política, economia e meio-ambiente.

Compromete-se
o Brasil, em Política Mundial, “a dar suporte às jornadas democráticas que o mundo está vivendo, reforçando o combate a todo tipo de extremismo”. Na Economia, o compromisso é “com a retomada do crescimento com responsabilidade fiscal e justiça social” e para o quesito Meio-Ambiente, o comprometimento é com a “sustentabilidade ambiental em harmonia com o desenvolvimento e com a inclusão social”, sendo esse item chancelado pela presença da ministra Marina Silva.

Ótimo recomeço
para um País que passou quatro anos sob desmoralização internacional, cujo governo era visto como um circo de horrores que de fato foi e cujo presidente assumiu deliberadamente a posição de pária global, isolado e ridicularizado pela defesa de teses execráveis como a da “imunização de rebanho”.

Reconstrução iniciada
, mas não será fácil. Ao voltar de Davos, a delegação brasileira vai reencontrar um Brasil destroçado por quatro anos de bolsonarismo, com o agravante de que a sabotagem – aflorada em 8 de janeiro – tende a continuar destrutiva nas áreas da economia e do meio-ambiente. Será uma luta titânica, tensa e multifacetada, para o Brasil sair desse buraco onde o mito afundou o país.

Hoje na História

16 de janeiro de 1976 – Manuel Fiel Filho, operário metalúrgico, é assassinado pela polícia política, em São Paulo, depois de preso no dia anterior sob acusação de receber exemplares do jornal Voz Operária, do PCB.

O assassinato de Fiel Filho é visto como uma provocação da ala terrorista do regime militar contra o General Ernesto Geisel, ocupante da presidência da República e que organizava a devolução do poder para os civis, no processo chamado de “distensão” ou “abertura”.

Os militares de extrema-direita, controladores de uma estrutura assassina semiclandestina, tentavam se manter nesse formato de crime organizado governamental e se opunham ferozmente à reconstrução da Democracia. Ações como o assassinato de Fiel Filho, e de Vladmir Herzog, eram provocações – com o sacrifício de vidas alheias – ao próprio general-presidente e contra a perspectiva de redemocratização.


Em resposta à provocação, Geisel demitiu o comandante do II Exército, General Ednardo Melo, responsável pela área onde ocorreu o assassinato. E na sequência dessa luta interna, Geisel exonera, no ano seguinte, seu próprio Ministro do Exército, General Sylvio Frota, aliado dos terroristas dos porões da ditadura.


Manoel Fiel Filho era alagoano de Quebrangulo, deixou viúva e duas filhas. Mais tarte seria tema de um filme dirigido pelo também alagoano Jorge Oliveira e de livro escrito por Carlos Alberto Luppi.