Enio Lins

Feliz democracia nova!

Enio Lins 31 de dezembro de 2022

2022 se vai. E já vai tarde, encerrando um ciclo venenoso, um quadriênio perdido. Neste réveillon o Brasil se despede de 2022, 2021, 2020, 2019 – quatro em um –, e recepciona 2023 na certeza de que tempos duros se anunciam para a reconstrução do País, com o soerguimento da economia nacional e o retorno das responsabilidades sociais da República.

2023 se chega. Chega tarde, pois muitos dos prejuízos brasileiros não podem ser recompensados em quatro anos, nem nunca – como no caso das centenas de milhares de vítimas mortais do Covid 19, vidas que poderiam ter sido poupadas se o governo federal tivesse tratado a pandemia de forma correta, responsável e com ações baseadas na ciência.

Enfim, é hora da virada. Hora de focar no trabalho (árduo) pela frente e consolidar a retomada do Brasil das mãos das milícias, devolvendo a Nação ao povo brasileiro. O ano novo encontrará o País com um governo respeitado internacionalmente e, nacionalmente, representativo do melhor das forças democráticas brasileiras.

O ministério, cujos derradeiros nomes foram apresentados na quinta-feira, é coerente com as esperanças e reflete a ampla frente que derrotou o golpismo, o milicianismo, o crime organizado. Um ministério multipartidário, multifacetado, capacitado, democrático. A esplanada volta a contar com gente qualificada em todos os níveis.

2022, ao ir-se, deixa a memória de – entre tantos dissabores – uma vitória memorável da aspiração democrática contra o pesadelo totalitário. Da vitória da Lei contra o crime organizado. Nesse quesito o ano findo lavou a alma brasileira com a eleição de Lula & Alckmin.

O ano se encerra com a afirmação do Estado Democrático de Direito, com a derrota das vivandeiras do ódio, com a derrota dos arautos da ditadura, com a derrota da indisciplina militar. 2022 se encerra com o começo do desmonte da impunidade.

2023 raia esperançoso entre nuvens carregadas que teimam em ficar no horizonte ameaçando com sua chuva ácida. O ano novo deve ser iniciado com a consciência de que o ano velho não quer ir embora e de que os golpistas não recuarão por conta própria.

Este ano novo não será tempo pacificado, e sim de lutas, de enfrentamento. A alcateia de hienas uivará e exibirá suas dentaduras de uma forma ou de outra, defronte aos quartéis ou noutros lugares. O importante é dar-lhes combate sem tréguas – dentro da Lei – e não cair em provocações, pois a meta é concentrar esforços na reconstrução do País.

Tchau 2022! Seja bem-vindo 2023!

SUGESTÕES

Nesta virada de ano tão significativa, quando um passado nojento que vigorou durante quatro infelizes anos é devolvido à catacumba da qual nunca deveria ter saído, recomendo dois livros, ambos abordando a permanência do tempo em termos das contradições políticas, ideológicas e culturais num Brasil cujas tenebrosidades não podemos esquecer.



1968, O ANO QUE NÃO ACABOU
– Escrito pelo jornalista Zuenir Ventura, em 1989, no formato livro-reportagem, relembra os fatos de um ano muito intenso, período marcante pelo crescimento da resistência ao golpe militar de 1964 e o recrudescimento das tendências assassinas da ditadura. 1968 ficou para a história como o ano das grandes manifestações pela reconquista da liberdade e da democracia; e pelo golpe dentro do golpe, quando a extrema-direita militar impôs, através do Ato Institucional nº 5, um sistema ditatorial que esmagou as oposições e garantiu à elite dirigente o silêncio e a impunidade sobre os crimes cometidos, inclusive sobre a corrupção que correu solta e sem registro de qualquer tipo.



FELIZ ANO VELHO
– Escrito por Marcelo Rubens Paiva, no formato autobiografia, tem como epicentro o momento em que o jovem autor sofre um acidente que o deixa tetraplégico para o resto da vida. Os momentos de sua existência são desfiados a partir dessa virada trágica, incluídos aí tanto os momentos de amor e sexo quanto a tragédia do sequestro de seu pai, Rubens Paiva, cometido por militares que o assassinaram em seguida.

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