Enio Lins

Praça dos Martírios: Testemunha privilegiada da história de Alagoas

Enio Lins 22 de dezembro de 2022

Uma das praças emblemáticas de Maceió é a Floriano Peixoto, mais conhecida como “dos Martírios”, posto o peso das igrejas na toponímia. Se é relevante ainda hoje, imaginem há mais de 100 anos. E, justiça seja feita, é marcante a centenária edificação dedicada a Nosso Senhor dos Martírios. Como GPS oral, foi inevitável servir como referência maior de orientação.

O templo foi construído por volta de 1880
e o palácio foi inaugurado em 1902, outra explicação da prevalência do nome mais velho para o conjunto. A Igreja dos Martírios passou por uma excelente restauração recente e resplandece em seus azulejos portugueses. Ficou um primor. Parabéns ao IPHAN. A praça, propriamente dita, funcionava como um contraponto ruim, péssimo, por degradada, deteriorada. Apois agora está sendo arrumada, numa feliz Inciativa do governo estadual. Parabéns.

O conjunto “dos Martírios”
é muito significativo para Alagoas, não só para Maceió. Foi concebido como cartão-postal desde antanho, reunindo em sua simbologia de pedra e cal os poderes de seu tempo, na virada do século XIX para o século XX. De um lado, o poder político material: a sede do governo estadual; do outro, o poder político espiritual: a Igreja Católica Apostólica Romana. Um defronte ao outro. De quebra, do lado direito do palácio governamental, se colocou a sede da administração da capital, então chamada de Intendência Municipal. Tudo redondinho, ou melhor: quadradinho.

O perímetro da praça é tombado
em nível estadual como Patrimônio Histórico, coisa a se considerar. Não tenho simpatia por tombamentos por perímetro, salvo exceções, pois normalmente no meio dessas áreas preservadas por lei se inserem imóveis que não têm nenhuma importância arquitetônica e/ou histórica. É o caso de algumas das edificações tombadas, por tabela, junto a esses monumentos listados – mas isso é outra história e visitaremos a essa pauta específica noutro dia. Por ora, viva o tombamento do complexo urbano dos Martírios!

Voltemos à praça.
Está sendo recuperada! Repito os parabéns ao governo do Estado de Alagoas, e além do governador Paulo Dantas, é visível a digital da secretária de Planejamento, Renata Santos, pessoa que sempre olhou para, e por, aquela área. É o único logradouro na Capital alagoana que os cuidados ficam por conta da administração estadual e não da municipal. Que as obras corram rápido. E que a Fonte do Major volte a funcionar – mas aí é outra pauta, para outro dia.

NOTAS

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Estudantes do IFAL de Marechal Deodoro foram premiados, em Brasília, por um projeto de composteira a ser instalado na feira livre da cidade.

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Laura Ramos, Karine de Oliveira, Raquel Lins e Thiago dos Santos são os quatro estudantes da equipe vitoriosa com o projeto de aproveitamento do lixo.

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A ideia nasceu como projeto de extensão no curso superior de Gestão Ambiental e teve orientação acadêmica do professor Dário Nicácio

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A composteira criada pelo grupo vai ajudar feirantes de Marechal Deodoro a aproveitar os resíduos de seus produtos de forma sustentável.

HOJE NA HISTÓRIA

Degradação pública de Alfred Dreyfus, litografia publicada no Petit Journal, em 13 de janeiro de 1895

22 de dezembro de 1894 – Tem início o julgamento do Caso Dreyfus, envolvendo um oficial francês de origem judaica, acusado sem provas de passar documentos secretos ao exército alemão. Alfred Dreyfus, capitão exemplar, engenheiro militar, foi injustamente processado por traição com base na convicção de seus acusadores de que, por ser judeu, daí “apátrida”, seria antifrancês e o responsável pelo vazamento de um projeto secreto. O caso sacudiu a França e boa parte do mundo ocidental por conta de ser uma acusação apoiada apenas no preconceito racial, num antissemitismo explícito.

Nesse primeiro julgamento, ele foi condenado à prisão perpétua, a ser cumprida na tristemente famosa Ilha do Diabo, situada na Guiana Francesa. O jovem oficial foi degradado publicamente das insígnias militares antes de ser enviado à prisão, onde ficou por oito anos, até – por conta de uma longa campanha de protestos – o caso ter uma reviravolta e a sentença ser revista depois da identificação do verdadeiro culpado. Com sua inocência comprovada, Dreyfus voltou ao Exército e lutou pela França na I Grande Guerra Mundial. Morreu em 1930, como herói e símbolo de resistência e vitória contra uma acusação injusta.

Um dos jornalistas que cobriu o caso, Theodor Herzl, judeu austro-húngaro, de tendência socialista, impressionado com o antissemitismo do caso, passou a defender a criação de um país específico para o povo judaico e, em 1895, publicou “O Estado Judeu”, livro que impulsionou o movimento sionista – mas aí é outra história.