Enio Lins

ENTRE O PATÉTICO E O CRIMINOSO

Enio Lins 22 de novembro de 2022

É ridículo o movimento suplicante pelo golpe militar?
Sim, patético, desmoralizante para quem se presta a montar vigília defronte aos quartéis em rituais de auto-humilhação. Mas é perigoso para a Democracia, pois por trás do vexame patriotário, existe uma obsessão criminosa clara e insofismável: convencer aos militares a atropelarem o Estado Democrático de Direito em benefício de uma minoria privilegiada que não aceita a derrota nas urnas.

Se os circos montados ao ar livre
em torno de instalações militares não descambaram ainda para espetáculos de violência (física) contra quem consideram oponentes isto se deve à correta orientação do lado vencedor não os responder e não cair nas provocações. Por outro lado, as tentativas de bloqueio às estradas, financiadas por empresários baderneiros, é uma ameaça real e uma violência em potencial, pois se destina a cortar as rotas de abastecimento entre as cidades brasileiras.

Não é de agora que empresários
do setor caminhoneiro têm usado seu poder financeiro e dirigem seus motoristas para atos ilegais e antidemocráticos. Têm o apoio de alguns motoristas independentes, é verdade, mas o que marca mesmo nesses bloqueios nas rodovias é a presença da alta finança das estradas, até porque os proprietários de caminhões solo ou mesmo de pequenas frotas não suportam nem os prejuízos de um dia de paralização nem muito menos as multas decorrentes da interrupção do trânsito. Só os grandes podem arcar com esses dispêndios, pois encontram formas de repassar os custos adiante e não sobram notícias de penalidades aplicadas, se é que algum dia existiram.

O direito a greve é regulado por lei
, locaute é proibido por lei. Greve é manifestação originária de trabalhadores em luta por maiores salários e melhores condições de trabalho, é parte indissolúvel das relações capitalistas. Locaute (lockout) é ato de força de quem já tem o poder econômico e, por ser óbvia pressão desleal, é vedada pelas legislações da maioria dos países ditos civilizados, inclusive no Brasil – conforme a Lei nº 7.783/89, em seu artigo 17º. E se está preparando, abertamente, locautes nas estradas brasileiras, em desrespeito ao resultado das urnas. É crime, simples assim.

Arriscamos a casar o ridículo com o criminoso
nessa onda de mimimi dos perdedores da eleição presidencial. Coisa própria das repúblicas bananeiras. Já passa da hora das instituições serem mais incisivas na defesa da Democracia. Aplicar – e executar – as penalidades previstas por Lei é um bom começo.

NOTAS


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Sucesso total na programação pelo aniversário de 112 anos do Teatro Deodoro, agenda que teve seu epicentro no dia 15 de novembro.

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Sheila Maluf, diretora do complexo de espaços culturais em torno do centenário Teatro Deodoro, está – novamente – de parabéns!

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Alexandre Holanda, responsável pela área artística do Deodoro, também merece parabéns pela produção impecável da agenda do 112º aniversário.

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E falando ainda no Complexo Cultural Teatro Deodoro, vem aí a exposição do artista plástico Agélio Miranda, fechando com chave de ouro a agenda 2022.

HOJE NA HISTÓRIA

22 DE NOVEMBRO DE 1910: Estoura a “Revolta da Chibata”, motim dos marinheiros contra a prática de castigos corporais. Herança do Império, o chicote era usado à larga pela oficialidade branca contra a marujada negra e parda de origem humilde. Na época, o governo federal havia comprado novos navios de guerra, e nos quais os comandantes estavam ainda se habituando a usá-los. Nesse cenário de inovação tecnológica e atraso social, a revolta eclodiu. O líder foi um marinheiro negro, João Cândido, que – no comando da frota – demostrou rara habilidade nas manobras navais. A “ralé”, como dizem os elitistas, destituiu seus comandantes em combates a bordo que resultaram em mortos e feridos. Vitoriosos, os amotinados exigiram “o fim da escravidão na Marinha Brasileira”. Para encurtar esse relato, foi negociado por Rui Barbosa a rendição dos revoltosos em troca de uma anistia e, naturalmente, o fim da chibata no lombo da marinheirada. Depois da pacificação, a anistia não foi cumprida pelo governo do Marechal Hermes, e os amotinados foram perseguidos, presos e muitos assassinados. João Cândido consegue sobreviver a todos os maus-tratos por dois anos de masmorra, e, em liberdade, viveu humildemente o resto da vida, morrendo em 1969, de câncer. Sobre o tema, o acesso mais prático é a Wikipédia, nos verbetes “Revolta da Chibata” e “João Cândido Felisberto” (as fotos aqui reproduzidas foram colhidas lá). O livro “Revolta da Chibata”, de Edmar Morel, pode ser comprado no site do Magazine Luiza, por R$ 63,92. No site estantevirtual.com.br, exemplares usados podem ser adquiridos a partir de R$ 39,00.