Enio Lins

FAZENDO HISTÓRIA TAMBÉM NA TRANSIÇÃO

Enio Lins 19 de novembro de 2022

Alckmin está sendo um mestre na formação e nos primeiros passos da equipe de transição. Retorno ao tema porque esse é o movimento mais importante nessa quadra de tempo, sem menosprezar todos os demais elementos vitais dessa conjuntura inusitada, inclusive com desmedias pressões golpistas, tão histriônicas quanto perigosas, sobre as forças armadas

Cenário conturbado como poucos na nossa história, essa transição do governo das milícias para um governo democrático tem tudo para dar mais e maiores problemas. O desaparecimento do derrotado “comandante supremo” é um complicador, pois caso essa fuga seja replicada para o resto da turma dele, perder-se-á um tempo precioso o que vai repercutir no início da próxima gestão. Será mais demora para a totalização dos dados, inclusive com a recuperação dos arquivos vítimas de tentava de destruição. Sem alarde, o vice-presidente eleito vai rompendo os bloqueios e reforçando sua equipe.

A amplitude da equipe convocada por Alckimin é outro acerto político e administrativo. Com um número maior de participantes, com mais pessoas qualificadas em suas áreas, e vindas de grupos políticos e partidos distintos, a comissão reflete a necessidade imperiosa de ampliar ainda mais a frente política em torno de Lula. Essa é a mensagem mais importante.

Cada dia a caixinha de surpresas vai sendo aberta e, pelas frestas, se lobrigam problemas de grande magnitude deixados como herança podre do desgoverno miliciano. Segundo reportagem da BBC News, o acumulado, em termos de rombo no teto de gastos, poderá alcançar R$ 800 bilhões, aí inclusas a bagunça nos dispêndios com a pandemia (inclusive com a compra de montanhas de medicamentos inúteis para o Covid19) e a cachoeira de dinheiro usada na compra de votos para a reeleição do mitológico capitão. Um despautério que o onipresente Mercado ignorou. Foi cúmplice, em verdade.

É um cenário de terra arrasada. Pode ser pra mais ou pra menos, mas é um desastre sem precedente. Para se administrar a reconstrução do Brasil – e incluir os mais pobres – é indispensável ir além de um só grupo governando. Lula compreendeu isso desde antes da campanha ir às ruas, e foi buscar para vice um grande ex-adversário. Ousou. Acertou. Pois como se comprova a cada momento, o futuro imediato é de muita dificuldade, de muito embate, e de necessidade de ampliação ainda maior dessa frente.

NOTAS

# Na vaga aberta no Tribunal de Contas do Estado, um nome não pode ser esquecido: Fábio Farias. Nada mais justo que sua condução para a corte de contas.
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Fábio Farias tem larga experiência na gestão pública, provado em duas secretarias complexas: Educação (com Téo Vilela) e Gabinete Civil (Renan Filho).
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Nome com largo trânsito entre os poderes Judiciário e Legislativo, entre os movimentos sociais e no empresariado, é de estranhar não ter sido indicado ainda.
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E essa vaga – indicação do Executivo – já deveria ter sido preenchida há tempos, mas segue desocupada, e rumores de todo tipo começam a circular.

RECOMENDAÇÃO

MAUS é um dos melhores exemplos da chamada “novela gráfica”. Não confundam com gibi. Não tem super-heróis, são pessoas viventes em suas épocas, viajando no tempo por conta das lembranças. Um dos maiores expoentes da contracultura americana, o cartunista e artista gráfico Art Spiegelman (nascido na Suécia, 1948) mistura pequenas doses de sua própria história pessoal com as fartas e dramáticas memórias de seu pai, Vladek Spiegelman (1906/1982) – um sofrido judeu polonês sobrevivente dos campos de concentração nazistas. O romance biográfico em quadrinhos inova na representação dos personagens. Judeus, inclusive o autor, são desenhados como ratos (“maus” é “rato” em alemão), alemães como gatos, polacos como porcos, americanos como cães... O autor fundamenta essa experimentação como sendo um “Disney ao contrário, pois ele humanizou os animais e eu animalizo os humanos”. Livro extraordinário, mesmo para quem não simpatiza com o formato HQ. O exemplar pode ser adquirido na amazon.com por R$ 79,90 (capa dura) ou R$ 47,99 (capa comum), no site estantevirtual.com.br, exemplares usados em bom estado podem ser comprados a partir de R$ 28,00. Vá lá, leia: Maus é muito bom!