Enio Lins

POLÍCIA POLÍTICA NA ÁREA?

Enio Lins 21 de outubro de 2022

MLK/FBI é um filme/documentário sobre Martin Luther King, dirigido por Sam Pollard (cineasta parceiro de Spike Lee), produzido em 2020, que relata as atitudes da poderosa máquina da polícia federal americana contra alguém que o sistema considera alvo a ser abatido política e moralmente.

Martin Luther King, como se sabe, era pastor evangélico e defensor do pacifismo como forma de conquista dos direitos civis. Antes de ser assassinado, em 1968, o FBI pintou o terror contra ele, utilizando informações pessoais constrangedoras para multiplicar seus conflitos familiares. Gravações sobre supostas infidelidades dele que eram sistematicamente enviadas para sua esposa, e cartas anônimas aconselhavam MLK a se suicidar.

Usar informações policiais nas batalhas políticas não é exclusividade de supremacistas brancos contra adversários “colored”. J. Edgar Hoover (fundador e diretor perpétuo do FBI), segundo historiadores, lançou mão de dados recolhidos pelo Federal Bureau of Investigation para pressionar lideranças brancas como o próprio John Kennedy e seu irmão Robert. Isso sem falar da infame “caça às bruxas”, onde a pecha de “comunista” era senha para as piores perseguições. Ser gay era sentença de condenação eterna no caso de ter postura política não-conservadora (o que não se aplicava ao próprio Hoover).

No Brasil contemporâneo, a utilização da Polícia Federal como instrumento político é um espectro que assusta a Democracia desde que o próprio Jair B., numa reunião ministerial, no dia 22 de abril de 2020, investiu contra seu então ministro da Justiça pelo controle da instituição. Dois dias depois, Moro deixou o cargo após um delegado de sua confiança, Marcelo Valeixo, ser demitido pelo cara da faixa. Saiu grasnando contra seu ex-mito, acusando-o de manipular a PF. Mas, agora senador, voltou ao ninho de cobras, com o chocalho entre as pernas. Mito & Moro fizeram um acordo para uso comum da polícia de intimidação?

Tem rolado umas coisas suspeitas: Em setembro deste ano, 131 delegados federais apresentaram queixa-crime contra o Ministro Alexandre de Moraes, do STF, por ele ter ousado bulir com um grupo de empresários que pregava um golpe de estado. Em Alagoas, documento supostamente da PF chegou à mídia com acusações contra o governador Paulo Dantas, assim como boatos de que a PF entregaria imagens pessoalmente constrangedoras. J. Edgar reencarnou nos trópicos?


NOTAS


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O desespero está levando bolsonazistas a atropelar escancaradamente a legislação; a intimidação empresarial precisa ser apurada com mais rigor.

# A saudade dos currais eleitorais está forjando um coronelismo urbano pior que no passado; os grotões estão se urbanizando rapidamente.

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Agredir religiosos, dentro dos templos, por motivação política/eleitoreira, é outra inovação trazida por bolsonazistas para este ano.

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O pânico dessa turma traz de volta a fúria da Sturmabteilung, a famigerada SA, que barbarizou a Alemanha para a ascensão de Hitler.





HOJE NA HISTÓRIA

21 de outubro de 1889 – Irineu Evangelista de Sousa morre, em Petrópolis, como o empreendedor brasileiro mais notável até então. Visconde, antes Barão, de Mauá, nasceu no Rio Grande do Sul, em 1813. Migrou para o Rio de Janeiro ainda muito jovem e aprendeu por conta própria os segredos de como ganhar dinheiro. Recusou a atividade mais lucrativa da época, o tráfico de escravos, e se dedicou exclusivamente a negócios capitalistas, buscando grandes empreendimentos. Construiu a primeira fundição de ferro e o primeiro estaleiro (moderno) no Brasil, além da primeira ferrovia, investiu na colocação do cabo telegráfico submarino entre a Europa e a América do Sul (resumo bem-feito pela Wikipédia). A principal fonte de estudo sobre ele, entretanto, é o livro “Mauá: empresário do Império”, de Jorge Caldeira (Companhia das Letras, 1995), obra onde está detalhada a grandeza do personagem e de suas realizações, assim como as tremendas dificuldades que sofreu das elites monárquicas para realizar seus projetos e cujos boicotes o levaram à falência em 1875. No livro, inclusive, está relatado posicionamento nada elogiável do embaixador brasileiro no Reino Unido, nosso Barão de Penedo... Melhor ler o livro.