Enio Lins

DEIXANDO PARA AMANHÃ O QUE PODERIA SER FEITO ONTEM

Enio Lins 03 de outubro de 2022

O Brasil tem nova chance, no dia 30, de se livrar do encosto de se apropriou da faixa presidencial. Não deu para ontem resolver a parada, mas o resultado de 56,5 milhões de votos, 48,2% dos votos válidos, é uma conquista da cidadania contra a ignorância, a corrupção e contra a permanente ameaça de golpe miliciano. Dado importante a se considerar é o crescimento do candidato miliciano, que alcançou 43,4% dos votos válidos, o que quer dizer que 50,8 milhões de pessoas querem que o país siga nos descaminhos trilhados desde 2019.

Esta campanha presidencial, para o bem e para o mal, revelou bastante do Brasil profundo, de suas belezas e de suas feiuras até então escondidas, total ou parcialmente. Descortinou bem mais que a eleição de 1989, a de maior grau de mobilização e de polarização antes deste ano em curso. Na primeira eleição direta para a presidência da República depois do golpe de 1º de abril de 1964, grandes nomes nacionais pré-ditadura como Ulisses, Covas, Brizola apresentaram-se na disputa, além de lideranças gestadas nos tempos de chumbo, como Lula, e de personagens que se fizeram como referências no curso da campanha, como Collor – que, ao fim e ao cabo, venceria a parada.

A eleição presidencial de 2022 começou e vai findar como uma disputa bipartite, por ironia do destino, como no sonho dos militares golpistas de 64, que reduziram os partidos legalizados a dois, predeterminando que um seria de situação, outro de oposição. O miliciano no poder, que sonhava e sonha com um golpe militar em apoio a sua permanência, viu essa dicotomia tornar-se seu pesadelo. É verdade que Jair avançou cerca de 10% em relação às pesquisas de opinião, o que aumenta a sua chance de reeleição, mas para isso queimou boa parte de suas reservas, especialmente os recursos do “orçamento secreto” injetados com força durante todo período de caça ao voto.

Lula demonstrou enorme talento na condução do processo e fez um movimento de mestre ao trazer Geraldo Alckmin para a estratégica posição de vice. Beirou os 50% dos votos comandando uma campanha rica em engajamento de formadores de opinião. Mas precisa ser ainda mais hábil ainda para manter a vantagem vencer o meliante da faixa no dia 30.