Enio Lins
VIVA A EMANCIPAÇÃO ALAGOANA!!
Há 205 anos, em 16 de setembro de 1817, Alagoas – enfim – conquistou sua autonomia política. Era reivindicação antiga, oficializada em carta de 9 de dezembro de 1797, enviada por Bento Bandeira de Melo para o Secretário da Marinha e Ultramar do Império de Portugal, Conde de Linhares, justificando e defendendo a emancipação alagoana.
A força política de Recife & Olinda era maior e travou a ideia. O poder recifense se estendia até os limites do Cerará e acompanhava o curso do São Francisco por longa extensão hoje baiana. O litoral sul da então capitania pernambucana, área em formato triangular e tendo como principais assentamentos as vilas de Penedo, Alagoas do Sul e Porto Calvo, sempre olhou de forma enviesada para a sua capital formal e, desde a chegada dos holandeses em 1630, se nota um posicionamento distinto e opositor, sendo Calabar um símbolo disso ao optar pelo lado batavo, e não fez esse movimento sozinho, embora tenha pagado solitariamente por essa decisão. A administração holandesa, até 1645, tratou esse triangulo de forma especial e criou as primeiras comarcas, oficializando as três povoações citadas.
Em 1808, a aristocracia recifense se indignou, entre outras coisas, com a escolha do Rio de Janeiro, e não Recife, como nova capital, quando do deslocamento da família real lusitana para o Brasil. Salvador da Bahia também foi excluída, e antes era a capital da colônia, mas os baianos ficaram de boa e acompanharam, com berimbaus e tudo, o “meu rei” até as terras cariocas e lá se ajeitaram. Ao longo de nove anos, as camadas elitistas sediadas em Olinda & Recife pensaram em fazer-se república independente, englobando o Nordeste inteiro.
A ideia da sedição ganhou peso intelectual nos salões do Convento de Olinda e espaço político com os senhores de engenho, militares e traficantes de escravos. Mas a coisa se precipitou pelo gesto do capitão José de Barros Lima, o Leão Coroado, que matou seu comandante português (Brigadeiro Barbosa de Castro), no dia 6 de março de 1817, quando recebeu voz de prisão por participar do grupo separatista. Daí por diante o pau quebrou.
A revolta não prosperou, pois não teve êxito em conseguir apoios no resto da Região, nem mesmo no atual território de Pernambuco. Isolados dentro e fora de casa, os rebelados só travaram, e perderam, um único confronto, em Ipojuca (região de Porto de Galinhas). Leão Coroado findou preso, condenado por crime de lesa-majestade e executado em 10 de julho. Sua família refugiou-se em Alagoas, na região de Quebrangulo, e lá sua descendência vive em paz até hoje – informações detalhadas com Marcelo Lima, estudioso da história e prefeito quebrangulense, cujo Lima não é por acaso.
No vácuo de poder causado pela desarrumação da revolta recifense (erroneamente chamada de “revolução”), prosperaram as antigas reivindicações emancipacionistas em relação à administração pernambucana (Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas). E, nesse embalo, a terra das alagoas (a palavra lagoa era grafada como alagoa) virou Província através de alvará régio assinado por Dom João em 16 de setembro de 1817. O hoje esquecido Ouvidor Batalha (Antônio José Ferreira Batalha) foi um dos principais articuladores da emancipação alagoana, além de artífice do reconhecimento de Maceió como vila, em 1815.
Dom João VI, Príncipe-regente na época, e um dos mais hábeis dirigentes portugueses – apesar de ser vítima de uma imagem ridicularizada construída por adversários –, aproveitou a deixa para equilibrar o poder na Região e, além de Alagoas, consolidou a autonomia das províncias da Paraíba (emancipada oficialmente desde 1799) e do Rio Grande do Norte (emancipada só em 1822), que haviam sido engolidas pelo “grande Pernambuco”, e fortaleceu a Bahia, que em 1824, já sob Pedro I, ganhou toda a região limítrofe à jusante do Rio São Francisco, a partir de Paulo Afonso, antes ocupação pernambucana.
Nas disputas territoriais pós-emancipação, o trilátero alagoano findou perdendo um triângulo menor ao centro-norte na área determinada em 1817, e ficou com esse formato de “V”, pois três municípios alagoanos voltaram a ser pernambucanos: Bom Conselho, Águas Belas e Correntes, numa contenda política/geográfica só encerrada em 1945, com um acordo entre os governos dos dois Estados. No apurado final, dos aproximadamente 30 mil Km² determinados para Alagoas há 205 anos, ficamos com 27,8 mil Km², perdendo 2,2 mil Km² para Pernambuco. Tudo bem. E não se fala mais nisso.
HOJE NA HISTÓRIA
16 de setembro de 1944 – A Força Expedicionária Brasileira (FEB) ocupa Massarosa, primeira cidade italiana importante conquistada pelos pracinhas. Dessa localidade, as tropas brasileiras avançaram para novas vitórias em Camaiore e Monte Prana. O Brasil demorou a se posicionar ao lado dos aliados, pois a ditadura Vargas era simpática à Alemanha Nazista, embora se declarasse neutra. O que convenceu mesmo o governo brasileiro a guerrear contra o nazifascismo foi a velada ameaça americana de invadir o Nordeste. Muito sabido, Vargas não deixou barato e negociou com Roosevelt altos investimentos dos Estados Unidos (como a primeira siderúrgica nacional) e até Maceió ganhou alguma coisa: o traçado e as primeiras pistas das atuais avenidas Fernandes Lima e Durval de Góis Monteiro, o Aeroporto Campo dos Palmares, e a base para hidroaviões na Lagoa Mundaú (hoje desaparecida). Já o Porto de Jaraguá, concluído em 1940, foi fruto de negociação anterior com a Alemanha. Em Alagoas existe um excelente museu sobre a participação brasileira na Segunda Guerra Mundial, na 20ª CSM (Forte São João, perto da Estação Ferroviária), montado pela saudosa Major Elza Cansanção, veterana da FEB.
Enio Lins
Sobre
Enio Lins é jornalista profissional, chargista e ilustrador, arquiteto, membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Foi presidente do DCE da UFAL, diretor do Sindicato dos Jornalistas, vereador por Maceió, secretário de Cultura de Maceió, secretário de Cultura de Alagoas, secretário de Comunicação de Alagoas, presidente do ITEAL (Rádio e TV Educativas) e coordenador editorial da OAM.