Enio Lins

TRATAMENTO IGUAL PARA TODO MUNDO NA FISCALIZAÇÃO

Enio Lins 15 de setembro de 2022

Conceder às forças armadas acesso diferenciado ao processo do voto eletrônico, ou qualquer outro formato do votar, é algo ilegítimo e ilegal. Nenhuma instituição pode se diferençar das demais e tentar impor suas vontades e caprichos à Justiça Eleitoral – e é isso o que o segmento fardado bolsonarista está tentando fazer por orientação de seu “comandante supremo”.

Resistir é preciso, mais que isso, é indispensável que a Justiça Eleitoral vença essa pressão dos militares/militantes bolsonaristas. Sugestões são bem-vindas, mas é inegociável o acesso privilegiado de elementos estranhos ao TSE e TREs aos mecanismos das urnas eletrônicas. Esse acessar precisa se ater ao determinado pela lei e pelas normas eleitorais, sem privilégios. Jair Messias e seus partidos têm todo acesso à fiscalização das urnas, como sempre tiveram, e essa pretendida boca-de-urna militar é um abuso.

Imaginem um general Pazuello mexendo nas urnas eletrônicas! O método escrutinador militar-bolsominion pode ser conferido no comício em Brasília, 7 de setembro, quando um coronel interrompe o locutor quando falava em “100 mil pessoas presentes” e o manda dizer que “tem um milhão!”; assustado, o apresentador tenta corrigir: “Aqui na minha frente 100 mil, mas em toda a Esplanada, chegou os dados (sic), 1 milhão de pessoas!!”. Vídeo disponível na Internet, podem auditar.

A cada pesquisa que Jair não sobe, sobe a pressão bolsonazi sobre as urnas eletrônicas e a turma do “manda quem pode, obedece quem não tem juízo” cutuca o TSE com a ponta da baioneta. Essa gente, fã incondicional dos Estados Unidos, do Reino Unido e dos demais exemplos de civilização capitalista avançada, será que, alguma vez, ouviu falar que as forças armadas americanas, ou britânicas, ou suíças, ou australianas, vieram a pressionar os sistemas eleitorais de seus respectivos países?

Republiqueta de bananas é onde a tradição é de interferência militar nas eleições, coisas do Haiti de Papa Doc ou Uganda de Idi Amin ou da nossa latino-americana banda podre com seus Pinochet, Somoza, Stroessner e tantos homens brancos trajados de verde. O Brasil precisa ficar independente dessa fantasmagoria, que vira e mexe, retorna a assombrar a Nação como uma versão criminalizada do romance “Incidente em Antares” (Érico Veríssimo, 1971). O vezo militarista brasileiro tem que descansar em paz de uma vez por todas. Amém.

NOTAS

# Mais uma vez, a covardia e misoginia bolsonarista atinge a jornalista Vera Magalhães, desta vez vítima de um ataque de um deputado paulistano.

# Douglas Garcia, deputado, atacou Vera Magalhães nos bastidores de um debate entre os candidatos ao governo paulista, anteontem, na TV Cultura.

# O também jornalista Leão Serva interveio, tomou e arremessou longe o telefone do meliante (que gravava a própria agressão à jornalista). Parabéns!

# Em Alagoas, a briga mais intensa continua sendo travada entre as 2ª e 3ª posições na disputa pelo governo do Estado. No mais, tudo tranquilo.


HOJE NA HISTÓRIA



15 DE SETEMBRO DE 1835 A bordo do barco HMS Beagle, Charles Darwin, aos 27 anos de idade, chega às Ilhas Galápagos, arquipélago com 58 ilhotas situado a cerca de mil quilômetros da costa do Equador. O cientista lá permaneceu por 35 dias, estudando a vida animal nessa região isolada no Oceano Pacífico, e foi juntando as peças de um fantástico quebra-cabeças sobre a evolução dos seres vivos, e muitos anos depois, em 1859, publicou o clássico “A origem das espécies”, desmistificando as lendas sobre a criação da vida no nosso planeta e apresentando suas teses científicas sobre a seleção natural e sexual na evolução. Enfrentou dura pressão, mesmo perseguição, por contestar os dogmas religiosos sobre a origem divina da humanidade e da vida no geral e, ainda hoje, em pleno século XXI, suas descobertas são combatidas ferozmente pelos chamados “criacionistas”. Até 1925 o ensino das teorias darwinistas era proibido por lei nos Estados Unidos, e no Brasil cresceu, nos últimos anos, as estupidezes anticientíficas do tipo anti-Darwin, inclusive o patético terraplanismo.