Enio Lins

NO RINGUE, BRIGAM TRÊS CONTRA UM

Enio Lins 10 de setembro de 2022

Faltam, a partir deste domingo, 21 dias para a eleição. Parece não haver mudança significativa no horizonte, mas, de repente, outra faca pode riscar na pista! Sem imprevistos, tudo indica dois segundos-turnos. Um no dia 2, outro no dia 30, ambos em outubro, ambos Lula x Jair. As demais candidaturas são coadjuvantes, embora nomes, números e fotos apareçam na urna no dia 2.

Apesar todo mundo querer resolver a parada no primeiro turno, a história das eleições presidenciais brasileiras reserva, pós-ditadura de 64, esse privilégio apenas para FHC, em 1994 e 1998. Todas as demais, seis das oito disputas foram decididas no segundo turno. Até este final de semana, matematicamente, Lula conserva a chance de vir a ser eleito de primeira, mas...

Contra a vitória de Lula no primeiro turno uma série de fatores se alevantam, e o que menos joga peso é o multimilionário esforço do segundo colocado para não ser nocauteado no dia 2. Jair pilota o mais rico tesouro de campanha na história do Brasil, mas o que pode salvar o falso messias de beijar a lona no round inicial não é essa dinheirama toda, e sim o trabalho das candidaturas postadas nos terceiro e quarto lugares. Ciro e Simone suam as camisetas para levar a disputa até o dia 30, e estão conseguindo.

Lula, pessoalmente, jogou um papel de vanguarda em relação ao próprio PT e foi buscar o ex-adversário Alckmin, num movimento de mestre. Janones foi convencido a retirar a candidatura para apoiar o número 13 já no primeiro turno, e foram reduzidas as arestas com Marina Silva. Mas o MDB não veio, o que representa senão a única, mas a mais sentida perda entre as siglas aliadas. O hercúleo esforço de Luiz Inácio para ampliação em torno de seu nome, apesar dos avanços expressivos, não garantiu até hoje a eliminação do segundo turno.

Jair, por sua vez, insistiu na estreiteza e manteve um general como vice, chutando Mourão, com quem tinha atritos desde 2018, e convocando Braga Netto, oficial que comandava a intervenção militar no Rio de Janeiro quando a vereadora Marielle (desafeta de seu filho zero-dois) e o motorista Anderson foram assassinados. Do ponto de vista miliciano, ele está certo: imobiliza e traz a cúpula das forças armadas para seu lado, alimenta sua base fanatizada com a visão de uma chapa puro-sangue (versão tropical da “raça pura”), enquanto o Orçamento Secreto é inteiramente torrado no próprio quintal, sem compartilhamentos outros.

Ao modo de cada um, Lula e Jair cumpriram suas metas na formação das respectivas chapas. O próximo passo seriam os “tratados de não-agressão”, ou alianças não-oficiais com outras candidaturas. Nesse item, até agora, Jair tem tido mais sorte, quer tenha ou não se esforçado nesse sentido. Lula não tem a simpatia de nenhuma outra candidatura com alguma expressão nesta briga, como Haddad teve em Boulos há quatro anos, pleito em que cabo Daciolo foi o Robin de Jair na batcaverna da direita no primeiro turno, e no segundo turno, foi vital para a vitória do 17 a mitológica viagem de Ciro à Paris.

Ciro Gomes prefere Jair a Lula, isso ulula. Sua munição de grosso calibre é disparada contra o candidato do PT, enquanto tiros de festim são direcionados ao ex-capitão. Parece que Gomes enxerga o porvir mais ou menos assim: a reeleição do mito , obviamente, seria um desastre maior ainda para o Brasil e, no duplo caos bozonazista, 2026 escancararia suas portas de banda a banda para ele. Pois Lula, não ganhando em 2022, estaria naturalmente debilitado quatro anos depois, aos 81 anos. Se o candidato do PDT não pensa assim, age como se assim pensasse.

Simone atira nos dois, tanto faz Lula ou Jair. Marca posição também de olho em 2026, candidatíssima. O que vier tá bom para ela, pois manterá sua postura de oposicionista/situacionista com seu velho e sabido MDB permanecendo, como sempre permaneceu desde a redemocratização, simultaneamente como oposição e situação em qualquer governo que seja eleito. O que Simone Tebet ganha em 2022 é a projeção nacional de seu nome, antes circunscrito à sua Região e ao agronegócio. E em qualquer hipótese, um segundo turno é lucro, por conta das articulações próprias para o encerramento do pleito.

Lula é o mais prejudicado nesse jogo, pois, na prática, briga sozinho contra três. Lógico que o candidato do PT pode e deve mobilizar ainda mais sua militância e, principalmente, ampliar sua comunicação com as bases do PDT e MDB. Ainda restam 21 dias. Tic, tac, tic, tac...